Jürgen Paape, “So Weit Wie Noch Nie” [GER, 2010].

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Atenção: abaixo segue três textos diferentes escritos cada um por um autor diferente.

 

Junger Paape e a geração Ícaro.
George SóSucesso Yeah!

Quando se fala de produção, a música eletrônica feita na Alemanha ainda é uma das mais relevantes dentro do cenário atual. Passados quase cinquenta anos desde o lançamento do primeiro disco do Kraftwerk, a cena eletrônica alemã ainda causa espanto não apenas pelo fenômeno de público de suas clubhouses mas também pela magnitude e capilaridade de sua produção. Não restam dúvidas, ao se falar de música eletrônica na atualidade, vira e mexe, corre-se o perigo de ser taxado de eurocêntrico, pois é praticamente impossível não se remeter a uma gravadora, um estilo ou artista advindo daquelas praias. Não é à toa que artistas como Brian Eno escolheram o país para produzirem seus discos mais limítrofes como a trilogia berlinense de David Bowie e o Zooropa do U2. Desde os primeiros experimentos da elektronische musik nos estúdios da rádio NDWR, na cidade de Colônia, que a Alemanha tornou-se um dos paraíso da tecnologia avançada de estúdios quando o tema é música eletrônica. Pra se ter uma ideia, em Berlim você encontra desde lojas de equipamentos musicais de cinco andares a um circuito sempiterno de festas, Djs e boates de segunda a domingo.

Obviamente, todo esse avanço tecnológico não é gratuito e decorre do estado de bem estar social implementado no pós-guerra, sendo o efeito visível do nefasto processo de reorganização geopolítica da colonialidade do poder que não só relegou ao segundo plano o processo de reconstrução nas ex-colônias africanas como fizeram o possível para reprimir suas lutas por independência. Fruto da aliança entre o capital privado internacional e a sobrevivente elite germânica, tal processo como disse Fassbinder em praticamente toda sua obra cinematográfica apenas disfarçou o autoritarismo explícito do antigo regime em uma nova forma de liberalismo econômico policial assentado nas mesmas estruturas de poder (empresas/bancos). Vale lembrar que uma das maiores fabricantes de armas do mundo, a Glock, é alemã, e que por mais que Berlim seja cheia de ciclovias, os automóveis alemães continuam a inundar as grandes cidades.

É deste cenário paradoxal de avanço e alienação tecnológica ballardiano, que surge o pop-house onírico Ibiza de Jungern Paape, um dos nomes por trás da Kompakt (gravadora situada na mesma Colônia da NDWR), e autor de um dos maiores anti-hits da música eletrônica dos anos 00 (ao menos na Austrália e na Itália): “So Weit Wie Noch Nie”.

Trilha sonora perfeita para um desfile de moda em Milão, um verão em Ibiza ou um passeio no barco do Aécio [Neves], “So Weit Wie Noch Nie” tem aquele miasma de música de abertura do programa do Amaury Jr., mas se formos olhar direitinho, apenas em sua superfície radiofônica. A fórmula está lá: vocais femininos, batidas tech-house, sintetizadores modo ventania no cabelo e até um teremim para ficar mais hipster. Mas há algo inquietante nessa calmaria. Uma desconexão entre passado e presente. Nas poucas resenhas que encontrei (Pitchfork, Resident Advisor, Actualites Eletroniques), as avaliações ficam entre 8 e 7 sobre a coletânea em que a música foi lançada (Total 2000, Kompakt), porém a música é tida como o exemplo de pop eletrônico perfeito, sem arestas, límpido como o lindo lago de amor de Gonzaguinha. Uma ilha de despreocupação no inferno de obrigações de nossa realidade. Como disse antes, a princípio parece ser um daqueles hits de verão fadados a morrer na praia, mas o próprio fato de estar escrevendo essa resenha prova que não o é.

Espécie de Thomas Pynchon ou J. D. Salinger dos botõezinhos, Paape nunca discotecou, deu entrevistas ou mesmo se apresentou publicamente. Isso nos faz refletir: quais seriam suas reais intenções com isso? Será uma renúncia ao hype que envolve a música eletrônica e uma declaração de que nesse meio o que menos importa é o artista e sim o produto final: a música? Diferente do KLF, sua recusa não une política a controvérsia (chuva de dólares, sangue de porco, confusão mental), nem também como Pynchon tem a necessidade de apagar seus rastros. O seu processo artesanal de produção (Paape é conhecido por ser um dos artistas menos prolíficos da música eletrônica) evidencia os seus propósitos de ser um anti-hype de sucesso apenas pela música. Um meio-termo entre a morte do artista proposta pela geração trance e o excedente de produção da música eletrônica dos 90 com sua afluência de novos estilos e subculturas.

A música perfeita segundo 90% dos comentários no YouTube (para todos aqueles que viveram o verão de 2002): polida, evocativa, letra inteligente, entre o ambient e o easy-listening. Um house lounge pop celestial, mas que pra mim, ainda cheira a programa de variedades matinal com direito a dancinha de Regina Duarte e tudo. Se em 2002 a música seria símbolo do despojamento de uma geração com computadores em casa e à mão, na qual me incluo, a qual entre suas principais preocupações estavam o hedonismo e um futuro cheio de maravilhas tecnológicas pela frente (Soulseek, Orkut, Facebook, internet à cabo) – ou seja, o YouTube como libertação do jugo da MTV –, hoje tudo isso parece uma grande piada sem graça. Envelhecemos e envelhecemos mal, esses bricabraques geracionais se transformaram em verdadeiras armas de destruição em massa e resultou na emergência de uma milícia política que despreza todo e qualquer exemplo de diversidade e minorias.

Hoje, a beleza nostálgica de “So Weit Wie Noch Nie” soa tétrica. O seu canto de liberdade eterna descompromissada traz à lembrança a memória de meus amigos mortos pelas drogas tragicamente e a absoluta impossibilidade de encontrar qualquer redenção. Como diz sua letra, nós transformamos “horas em anos”, “caçamos a monotonia”, porém ao voarmos “tão longe quanto nunca antes”, pagamos o inevitável preço da queda.

Dedicado a Gustavo, Neco e Walmirzinho.

>>Pra sacar mais, clique no amarelinho:

A lenda de Ícaro [Wikipédia] | Kraftwerk | Brian Eno | David Bowie | U2, Zooropa [Disco] | Elektronische Musik [Página da UFRGS] | “Aníbal Quijano e a crítica latino-americana à colonialidade do poder”, por Erick Kayser [Matéria do blog Racismo Ambiental] | Rainer Werner Fassbinder [Wikipédia] | “Novo livro de J. G. Ballard prevê um futuro sombrio” [Matéria, O Tempo] | “O falso eremita: Uma investigação sobre o escritor americano Thomas Pynchon, que nunca deu entrevista em 54 anos de carreira”, por Natália Portinari [Matéria, Piauí] | “Autor do mês: 5 curiosidades sobre J. D. Salinger, o recluso autor de Catcher in the Rye”, por Tiago Matos [Matéria, Revista Estante, da FNAC] | KLF [Wikipédia] |

 

Jürgen Paape, “So weit wie noch nie” – Entre o carnal e o etéreo.
Aroldo SóSucesso!

O que torna popular uma música é parcialmente imponderável. É fácil definir uma faixa de sucesso dizendo que ela é acessível, que gruda nos ouvidos, e é fácil identificar o que a torna atraente para o público assim que ela surge, mas achar os ingredientes e saber misturá-los é outra história. Há até fórmulas que ajudam a criar hits, mas é óbvio que elas não bastam. Ok, na escala industrial da RIAA, a ascensão de uma faixa às paradas de sucesso tem mais garantias, mas um chocolate com pouco cacau que vende muito porque a concorrência tem ainda menos cacau continua sendo uma bela bosta de chocolate.

Fuçando na Internet, encontram-se inúmeros casos de músicas cujo sucesso é menor que o dos mega-hits, mas que conquistaram o público usando um aparato de divulgação relativamente modesto. São esses os quitutes mais interessantes. Na maioria dos casos, eles estão exatamente onde deveriam estar, porque não fariam sucesso junto ao grande público nem com reza brava, já que fazem parte de círculos audiófilos pequenos. O que me interessa é o sucesso do que nasce num âmbito relativamente pequeno, porque, mesmo que não exista na música uma correlação intrínseca entre popularidade e qualidade, é daí que nascem as músicas brilhantes, as gemas. “24-track loop” não é necessariamente a melhor música do This Heat, mas é a mais acessível e, ao mesmo tempo, tão experimental quanto o resto do trabalho da banda, e é isso o que a diferencia. Os ouvintes de This Heat não estão procurando música fácil, mas ainda assim, como se percebe pela quantidade de acessos ao YouTube, ouvem mais “24-track loop” que as outras músicas. No meu caderninho de concepções pessoais, isso faz dela não só um hit, mas uma gema.

Claro que o gosto pessoal não interessa aqui. Amar jiló não o torna um hit, mas um cozinheiro que faça sucesso com um prato à base de jiló, o que é o contrário de apelar para o testado e aprovado, é talentoso. O mundo dos megahits é feito de pouca variedade e seu público-alvo é idealmente passivo. Já o mundo dos hits escondidos, bem, esse é um mundo populoso mas pouco povoado, uma Rússia musical. Nesse território, você encontra “So Weit Wie Noch Nie”, faixa de house music ambiente (ou tech house ou algo assim) do produtor Jürgen Paape, lançada em 2002. Paape tem um nome firmado no círculo EDM, tem uma gravadora, a Kompakt, e lançou várias outras faixas interessantes e de relativo sucesso, mas seu público é especializado. Algumas faixas usam o mesmo recurso de samples vocais isolados de canções das décadas de 60 e 70, mas não conseguem se elevar ao suflê de jiló delicioso de sua faixa mais conhecida. O que pode parecer um truque é, de fato, uma arte que jamais se domina completamente, que depende de sorte e intuição. Os samples vocais utilizados em “So Weit Wie Noch Nie” não são apenas de um contexto original muito diferente, mas são a peça central da faixa, ajudando a formar uma ambiência que não tem nada em comum com sua fonte.

Os samples que dão alma a “So Weit…” vêm da canção schlager “Vielleicht Schon Morgen”, da cantora israelense Dahlia Lavi. A canção original não é sequer uma das mais populares de Dahlia, e há um acompanhamento de violão que Paape espertamente retira. A canção de Dahlia é fraca, abruptamente muda o andamento para algo como um vaudeville, e eis que Paape percebe nela o jiló pra ser o ingrediente principal de uma iguaria fina. Samplear é uma arte, uma demonstração de que se pode fazer diferente, e não raro até melhor, através do uso de um pedaço de um trabalho prévio de outro artista. Samplear bem requer sensibilidade e demonstra uma das grandes ironias da música, em especial a pop, pela qual fica patente que ser o criador de algo não atesta competência e, portanto, não deveria conferir nenhum tipo de primazia sobre seu uso.
Há um sem-número de casos da música pop que ilustram isso e que inclusive levantam questões éticas e estéticas de que não tratarei aqui, mas que fique claro: plagiar é válido, a não ser que você seja rico e o plagiado seja pobre.

Mas enfim, em “So Weit…” , Paape cria algo acessível e denso de emoção. Em uma das páginas do YouTube, as pessoas comentam como ela traz memórias de tempos não vividos, uma nostalgia sem um objeto, pura contemplação de nada em especial e portanto prazerosa (um efeito comum em ouvintes de Boards of Canada, duo eletrônico cujo trabalho guarda similaridades com o que faz girar “So Weit…”). Há uma sensação de distância no tempo trazida por algum elemento musical difícil de identificar, que não se trata meramente de reconhecer vozes ou instrumentos antigos, mas que certamente passa por melancolia e languidez. A despeito de a faixa ser dançante, a impressão é de que ela flui lentamente.

Algo que explica muita coisa é que o estilo aqui é house (ou tech house, que seja): apesar de cair tão bem como fundo sonoro de academia de ginástica, a house tem uma versatilidade que permitiu que fosse adotada por artistas de estádio como Madonna e Kylie Minogue. Outra mostra dessa versatilidade é como a base rítmica se presta muito bem a canções evocativas de paisagens e atmosferas. Um exemplo forte, e também por ser um hit isolado, é “Meine”, de Daso, que, mesmo sendo menos dançante e mais techno, contém óbvios elementos house. Como parece acontecer quando se acha um elemento perfeito, todo o resto de “So Weit…” parece ser necessário. Os efeitos rítmicos e as linhas de sintetizadores são tão elegantes quanto a voz isolada de Daliah e o coro angélico, talvez porque, uma vez que Jürgen tenha achado o ponto fundamental do que queria fazer, todo o resto tenha basicamente mais aparecido a ele que propriamente sido buscado. “So Weit…” é, para este ateu, algo como um hino religioso sensual que se ouve na cama fantasiando mundos perfeitos que nunca existiram enquanto se rebola mentalmente.

>>Pra sacar mais, clique no amarelinho:

RIAA [Wikipédia] | This Heat, “24-track loop” | “Schlager: amado e odiado” [Matéria, DW] | Daliah Lavi, “Vielleicht Schon Morgen” | Vaudeville [Wikipédia] | “Sábado de Blues: O Blues e os Plágios do Led Zeppelin”, por Rob Gordon [Matéria, Medium] | Boards of Canada | Madonna | Kylie Minogue | Daso, “Meine” |

 

“So Weit Wie Noch Nie”, no fundo, é “I Will Survive”.
Mateus SóSucesso!

Amaury Jr. vai pras Bahamas fazer uma matéria especial “x” pro seu programa de fofocas de bom tom e gosto e leva à tiracolo Narcisa, que por outra questão “x” qualquer faz seu motim habitual lá no fundo sem que as câmeras captem – “hbcwjbcjwd, ai que delícia!, nivwn3vnr, ai que loucura!” – enquanto um gringo famoso com botox e camisa de botão florida Sílvio Santos de gola dentada semi-aberta mostrando o peitoral flácido fala pra Amaury, impassível, da época de ouro da disco na Studio 54, como era legal conversar com Debbie Harry, o quanto ela era engraçada, o quanto Warhol era críptico nos seus chistes e fino em seus shades, toda a graça existente naquele público maravilhoso que frequentava a boite blablablá.

Bem, acho que carreguei nas tintas, mas estranhamente “So Weit Wie Noch Nie”, de Jürgen Paape, me soa uma boa trilha sonora pra esse pantinho.

Olha, fui catar sobre Jürgen Paape, e das poucas que descobri, soube que é dono de um selo (Kompakt), que ele é propositalmente underground pra dedéo, assim como sua maior assinatura musical é essa house – e que house, viu? –, uma música que é baseada naquela outra de Daliah Lavi, “Vielleicht Schon Morgen”, que, pelo que deu pra sacar, é uma diva crooner com tintas mezzo cafonas no limiar da beleza, e vai ficando por aqui. É até bom que seja assim, que eu fique com esse pouquinho, porque daí fico eu no puro, eu e a música, a música e eu, nos olhando pra ver se dessa cana sai açúcar…

Já nos primeiros samples de “So Weit…” aflora um clima denso de pista lotada pela fauna de Ibiza, ao menos da Ibiza clássica, ainda próxima da disco, um paraíso regado a muita caricatura de glória e riqueza, clima de azaração, playmates e gente bronzeada bebendo a bebida que pisca, riso sardônico. Porém, talvez “So Weit…” tenha um clima mais modesto mesmo, de proporções mais “”undergrounds””, uma track que casaria melhor num balneário alternativo da dondocada alternativa. Em Carneiros, digamos.

Tudo que falei sobre Ibiza, lógico, é minha imaginação gritando à mil, já que sou um pé rapado e minha grana dá pra passar menos de uma semana em SP, que dirá um verão na orla espanhola. Mesmo assim tenho de confessar que, num país em que a desigualdade cheira à escravidão senhorial, eu, um professor, sou privilegiado. Mas, voltando, matérias e fotos como essa e essa [clique no amarelinho] contribuem pra que eu enseje esta narrativa e turbine a imaginação.

Só que, calma, talvez o que brota nessa faixa não seja tããão assim também.

“So Weit…” também parece querer nos levar à passeio pra, então, cair fora seja lá do que for. Tipo como a alegria com Ritalina ao se dirigir um carro em meio a uma estrada rodeada pela natureza com o sol se pronunciando entre as frestas do mato. Na real, essa conexão aqui não é de graça. Existe uma similaridade de fundo entre um certo efeitinho que rola em “So Weit…” e “Star Guitar”, dos Chemical Brothers, que lá no fundo é devedora de “Autobahn”, do Kraftwerk. Um tipo de efeito sonoro que soa análogo à convenção artificial de um transporte em movimento enquanto você assiste ao mundo pela janela, seja esse transporte um carro, um trem, um metrô, o que seja.

Também rola na faixa de Paape meio que um clima esfumaçado, só que não do mesmo tipo que um cool jazz de Chet Baker. Estaria mais prum esfumaçado onde, por detrás da elegância e beleza padrão, rola uma sequência de bolas fora e heroin chic, um quê de música e moda. Me vem aqui Kate Moss. Me vem, como imagem, Terry Richardson, que além de ter feito o clipe de “Vai, Malandra”, de Anitta, foi acusado à rodo de assédio e abuso de modelos. É sobre essa distinção com decadência de que falo, dessa coisa que quer escapar mas que não escapa na EDM, que meio que é parte de seu lifestyle, um clichê como a “idade limite” de 17 anos descrita na letra de “Seventeen”, da Ladytron, polaroid e estereótipo da vida de modelo.

Num geral, a EDM é historicamente feita de escapismos. Também, pudera, muito de seu público histórico é feito de pessoas marginalizadas social e racialmente nos EUA, seja a comunidade LGBTQIA+, sejam latinos e pessoas negras, sejam mulheres etc. Numa vida osso pra tantos e tantas – indico aqui o filme “Paris is Burning”, de Jennie Livingston – , nada mais justo que aconteça ali, na pista, um dia de rei ou rainha, mesmo que falso. Na verdade, o escapismo como tema grudou na EDM feito chiclete no sapato. Várias músicas falam disso, a própria “Lose Yourself to Dance”, do Daft Punk, tem na letra esse mote, mas pra mim a que melhor retrata mesmo é a disco “Last Night a DJ Saved My Life”, da Indeep. Foi aliás a disco quem delineou o que seria toda a EDM posterior – casada com o som do Kraftwerk, né?

Só que os tempos são outros, o fosso aumentou, o público se assemelha mas não é exatamente o mesmo. Não em todos os lugares. Pois há uma baita distância entre uma noitada na Metrópole, em Recife, e uma festa topzeira com DJ lá na Carvalheira, um público, este último, que, no automático, espera ansioso por se empoleirar num apê do Cais José Estelita, para deste modo assinar, direta ou indiretamente, a pena de morte do vuco-vuco vizinho do Bairro de São José.

Noves fora zero, entre o colorido e o apocalíptico, entre o ambiente e o maquinal, entre o êxtase e a abjeção, “So Weit Wie Noch Nie”, como boa parte da house music, também nos soa como esse convite paradoxal à superação momentânea e ilusória de que falo, aquela que, na pista, nos tira da dor por meio de batidas amaciantes, um travesseiro depois da clausura diária. Existe na house algo de uma primavera que antecede o verão, ou do verão em seu suor pleno, um estilo que parece nos apontar para algo que estaria bem ali, não sabemos bem o quê, nos esperando – promessa de vida?

Só que, enquanto tudo ficar como está, talvez o que nos reste seja mesmo sofrer a eterna desventura de viver e, em coro, continuar berrando “I Will Survive” [“Eu Sobreviverei”], unidos, com Gloria Gaynor.

>>Pra sacar mais, clique no amarelinho:

“Don’t touch is Art!” [Narcisa, YouTube]. | “Studio 54 – A Discoteca que fez História em Nova York” [YouTube] | Blondie, “Atomic” [Música com legendas] | “Andy Warhol, Studio 54 y la ‘enfermedad social”, por Isabel Espiño [Matéria, El Mundo] | Jürgen Paape [Biografia, Resident Advisor] | Daliah Lavi, “Vielleicht Schon Morgen” | “Carneiros: ‘É uma praia privatizada’”, por Letícia Lins [Matéria, #OxeRecife] | “Una mirada en el tiempo a la Ibiza de los 80s y 90s” [Matéria, The Basement]  | “Ibiza já era bem louca antes da geração rave chegar”, por Jak Hutchcraft [Matéria, Vice]Chemical Brothers, “Star Guitar” | Kraftwerk, “Autobahn” | Chet Baker | “Heroin Chic: Quando a estética viciada invadiu o high fashion”, por Caroline Campos [Matéria, Yves Sem Laurent] | “Kate Moss: los escándalos del ícono del Heroin Chic que rehabilitó su imagen y ya tiene una sucesora”, por Camila Álvarez [Matéria, bibliochile.cl] | “Um detalhe complexo de ‘Vai, Malandra’ que quase passou batido tem gerado um grande debate” [Matéria, Hypeness] | Ladytron, “Seventeen” | “Paris is Burning”, de Jennie Livingston [Filme legendado, YouTube]Daft Punk, “Lose Yourself to Dance”Indeep, “Last Night a DJ Saved My Life” | Kraftwerk | “O melhor dos points gays do Recife” [Matéria do Jornal do Commercio no YouTube] | Gerardo Rabello TV, “Carvalheira na Ladeira – Parte 1” [Matéria, YouTube] | “Recife, cidade roubada” [Vídeo do Movimento Ocupe Estelita, YouTube] | “Bairro de São José: história, descaso e destruição”, por Clênio Sierra de Alcântara [Matéria do blog A Cidade e a História] | Elis Regina e Antonio Carlos Jobim, “Águas de Março” [Vídeo legendado] | Toquinho, Vinicius de Moraes & Maria Creuza, “Eu sei que vou te amar” | Gloria Gaynor, “I Will Survive” [Vídeo legendado] |

 

>FICHA TÉCNICA:

Faixa composta por Jürgen Paape.

Vocal: Sonya Lübke

Selo: Kompakt.
Prensado por: MPO.

Produção: Jürgen Paape