Chastity, Home Made Satan [CAN, 2019]

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Chastity, Home Made Satan: relato de uma audição.
Aroldo SóSucesso!

Então, ouvi dizer que Chastity é isso e aquilo, que é da parte anglófona do Canadá, que eu sempre achei, em se tratando de rock, uma extensão dos EUA. Que tem letras que contra-atacam com imagens fortes a violência essencial do ultra-reacionarismo que dá as cartas institucionais no norte da América. Passei os olhos por uma pá de rótulos e adjetivos, que ajudam na mesma medida em que entopem minha cabeça, usados para descrever a banda, que na prática atende por Brandon Williams, vocalista cujo ardor deixa meio óbvio que é ele o responsável pelas letras; inclusive, eu queria saber se ele também toca a guitarra nessa “banda”, mas não achei essa informação em lugar nenhum.

Quanto aos rótulos, no momento em que “pós-hardcore” e “shoegaze” apareceram, eu disse “basta e danesse!”, porque isso aqui tem um nome bem cafoninha – por causa da origem autocelebratória de febre juvenil -, mas que vou usar porque ajuda mais que entope: rock and roll. A distância de Chastity para o rock cinquentista é imensa ou mínima a depender da perspectiva, e difícil de apontar exatamente, mas essas conexões existem na ingenuidade atravessada por tristeza sutil em Buddy Holly, na agressividade explosiva e rítmica de Chuck Berry e também na figura do outsider (cujo comportamento desviante o torna uma espécie de pária-ídolo, num círculo vicioso, e isso é assunto para talvez outro texto). E, sem voltas e voltas retóricas, o fato é que há uma razão para que a gente ouça isso e chame de rock e não de outra coisa.

Assim que eu percebi a real, decidi ir direto às faixas, armado de boa dose de ignorância.

Musga 1. “Flames”. Melodia boa. Para além dos rótulos, essas faixas se pretendem canções, logo dependem muito das melodias. A guitarra é ensolarada como as fotos da Califórnia dos anos 1970 em que aparecem aqueles jovens lindos e já meio decadentes. Será que eu penso nessas imagens porque o som me remete ao feito naquela época e lugar? Quantos clichês já me meteram na cabeça, eu me pergunto seriamente, motivado por “Flames”.

“Flames” lembra também “(Don’t Fear) the Reaper”, do Blue Öyster Cult, uma banda nova-iorquina de hard rock cuja imagem passava por supostamente desprezar hippies californianos, olha a ironia. Boa faixa, ponte interessante para o refrão, passagens de guitarra fazendo coisas bonitas no meio.

2. “Sun Poisoning”. Não curto esse jeito de cantar. Talvez seja condicionamento de tanto ter ouvido chatices cantadas assim. Uma questão importante, porém, é se não seria justamente essa entonação a razão da chatice. E agora a mesma guitarra de metade do rock dito alternativo dos anos 90, seguida por uma guitarrada genérica estridente da mesma década. Será que ele fica bravo quando a guitarra fica assim, como John Lennon ficava quando alguém parava de lhe dar trela em “No Reply” e a música então ficava pesada? E lá vem a guitarrada, claaaro.

3. “Spirits Meet Up”. O alarido anuncia “Eis a novidade!”, mas cadê? Olhe, esses timbres, essas dinâmicas, esses tudos, os Smashing Pumpkins faziam melhor. Eles e mais uns mil cujos nomes eu esqueci pelas mesmas razões pelas quais esquecerei Chastity se esse moço não se aprumar. É isso que é pós-hardcore? Esses reverbs, essas afinações, essas viradas de bateria, isso tudo parece enxertado diretamente da grande horta de camisas de flanela de 1992. Era só botar uma melodia decente aí. Mudar andamento, entonação e acorde até eu faço.

4. “Dead Relatives”. Ok, eu já entendi que Brandon é um homem em iguais partes sensível e viril, yin-yang, mas isso não o desculpa por parecer ficar improvisando a melodia. Um cantautor precisa de melodias que nos deixem interessados e nos aproximem do seu universo, Brandon, não importa o quão “pós-” ele seja. Ponto alto: não teve guitarrada.

5. “Bliss”. Começa melancólica, acordes menores. Tem climão com sonzinhos distantes e o refrão tá caprichado. Das melhores até agora, com textura diferente e ele canta tão bonito que eu quero ver uma foto depois.

*A essa altura do texto, noto que havia ouvido tudo no aleatório. Só lamento, não vou ouvir de novo não e acho que não ia fazer muita diferença mesmo.*

6. “The Girls I Know Don’t Think So”. Fofa. Lembrei de The Thrills, mas o paredão apareceu e me deu outro susto. A melodia é boa, a voz de Brandon adquire uma cor doce, meiga, mas essa estridência no refrão enterra a música.

7. “Year’s Lust Last”. Os dedilhados ao longo do álbum estão ficando tão monótonos quanto as guitarradas, e lá vem voz melosa de novo. As músicas se revelam cedo demais. Se revelassem coisas interessantes, nem reclamaria.

8. “I Still Feel the Same”. Algo como um glitch rítmico no começo. Fora isso, cansei e as mudanças ao longo da música parecem servir para ela andar em círculos sem dar muito na cara.

9. “Strife”. Notas isoladas e atmosféricas introduzem a faixa e, óbvio, lá vem a guitarrada genérica. Por 3 segundos, parecia Sonic Youth, mas 3 segundos de guitarrada de Sonic Youth não funcionam nem no Sonic Youth.

10. “Anxiety”. Começou com dedilhado, pode apostar que vai ter guitarrada. A melodia tem personalidade. De qualquer modo, isso só me lembra uma certa década. Se eu fosse Brandon, daria um tempo nessa guitarra estridente e aprimoraria as melodias. E talvez botasse um balanço nisso, que coisa quadrada. Mal se ouve o baixo.

Pois é, Brandon, é o seguinte, se você quer mesmo se afundar nessa dinâmica de peso e delicadeza, só tenho 6 palavras pra ti: “Babe, I’m Gonna Leave You” [clique no amarelo]. Se é que você me entende.

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Pós-hardcore [Wikipédia]Shoegaze [Wikipédia] | Rock and roll [Wikipédia] | Buddy Holly | Chuck BerryBlue Öyster Cult, “(Don’t Fear) the Reaper” | The Beatles, “No Reply” | Smashing Pumpkins | The Thrills | Sonic Youth | Led Zeppelin, “Babe, I’m Gonna Leave You” |

 

Chastity e a vingança do lixo branco.
George SóSucesso Yeah!

Era o ano de 1996, e naquela época, a única maneira de se livrar dos ditames das rádios era ter um toca-discos ou um toca-fitas. Por sorte, na minha casa possuíamos os dois. A possibilidade de você mesmo procurar pelas músicas que você gostava, por mais estranho que isso possa parecer atualmente, era um luxo. Nem todas as pessoas tinham recursos para comprar uma fita K7 ou um vinil. Para minha sorte, estávamos passando por um momento de inovação tecnológica, e a chegada do CD causou a obsolescência acelerada do vinil. As lojas de disco de rock e os sebos começaram a receber uma enxurrada de vinis usados e em bom estado de toda a sorte e qualidade, muitas vezes trocados pela promessa de alta fidelidade da nova mídia. Bem, seguindo a lei da oferta e da procura, os preços despencaram. Logo, discos que antes valeriam os olhos da cara, chegavam a preços irrisórios no mercado, tipo 50 centavos. Reza a lenda que o músico Ed Nota certa vez veio ao Recife apenas para sair com um container cheio de discos raros arrematados dos sebos da Rua do Sol (extinto) e do INSS na Dantas Barreto (em atividade) em uma verdadeira apropriação cultural.

Uma outra parte dessa economia musical residia no escambo e no empréstimo. Era comum pessoas se conhecerem por gostos musicais similares e após estabelecerem uma relação de confiança, começarem a compartilhar discos. E foi justamente a partir de um desses empréstimos que um disco de rock de capa azul com uma foto de um adolescente chegou em minhas mãos.

Escutar Hatfull of Hollow, do The Smiths, a primeira vez para um adolescente de dezesseis anos, formado dentro da cultura white trash de hardcore e grindcore, foi uma espécie de revelação e um divisor de águas – white trash é um termo pejorativo vulgarmente usado pros brancos precarizados da América do Norte. Descobrir que existia um outro lado da música pop em uma perspectiva mais existencial. Uma espécie de farol e bote salva-vidas em meio ao caos e lama que inundavam o Recife. Dos primeiros acordes de “William, It Was Really Nothing” à mandolinata de “Please, Please Let Me Get What I Want”, tudo naquele disco brilhava como uma jóia perdida recém encontrada no fundo de meu subconsciente. Não um encontro, mas um deja-vu. De repente, descobria que o punk podia ser melódico e metafórico. Toda aquela angústia adolescente que levou Kurt Cobain (do Nirvana) a se matar em 1994 estava ali, mas com a avalanche de guitarras do tentacular Johnny Marr. As letras falavam não de amor, mas da impossibilidade dele existir em uma sociedade capitalista filha da puta cheia de yuppies cocainômanos. Uma crítica aos desmandos da Inglaterra tatcherista e seus sombrios ideais liberais.

Vira o disco. Eis que estamos em pleno ano de 2020, e um outro álbum com um adolescente na capa traz à tona todos esses sentimentos de juventude e angústia, em um, agora, senhor de meia idade ainda mais angustiado. Dessa vez, a descoberta vem pela iridescência de uma tela de LED e processadores de silício. A começar por sua capa devastadora, tudo em Home Made Satan tem a atmosfera dos subúrbios pobres canadenses e de seus trailers parks. Letras, estética, videoclipes, menos sua sonoridade. Ao contrário das bandas punks experimentais símbolo do white trash norte-americano como Black Flag e Minutemen, em seu segundo álbum, Chastity, projeto solo do artista canadense Brandon Williams, revira a lata de lixo da realpolitik americana e cutuca a hipocrisia da direita muderna, servindo-se, principalmente, dos artifícios da música pop dos 80. Melodias cativantes em canções pops perfeitas e um comportamento passivo-agressivo que nos traz a memória muito mais Morrissey do que Cobain, a quem Chastity é comparado pela abrasividade do disco anterior, o Death Lust. Essa opção não é por acaso. Se hoje, Morrissey amarga um fim de carreira como uma tia velha direitista e falastrona, nos 80, suas letras refletiam sobre a vida na Inglaterra tatcherista, o berço do neoliberalismo como nós o conhecemos, com a acidez semelhante a que Chastity detona a Amerikkka de Trump. As mesmas críticas à austeridade fiscal que sufocava Manchester e que, hoje, sufoca a economia global (“Still ill” no The Smiths / “Spirit Meet Up” em Chastity). Posicionamentos similares quanto ao aborto e à família conservadora (“This Night Has Openned My Eyes” pelos Smiths / “Dead Relatives”, Chastity).

Nesses tempos sombrios de ascenção de ideais liberais conservadores, piores do que os dos anos 80, pois agora disfarçados de pseudorebeldia politicamente incorreta para esconder a agenda política fascista, Chastity surge como contraponto a alt-ritgh e ao rock centrista do Foo Fighters, valendo-se de estruturas musicais semelhantes, em uma espécie de vingança suburbana contra a apropriação e monetização da cultura white trash. Chastity resolve dizer “não”, como na música dos Inocentes (“Ele disse não”), e apontar o dedo na cara de seus pais, de seu país e da polícia, denunciando não apenas a, enfim, hipocrisia destes, como também a maldade e violência exposta por suas vozes e atitudes. Interessante encontrar em alguns de seus vídeos no YouTube o próprio defendendo os protestos contra a violência policial e o fim da polícia armada.

Em uma átimo de revolta perante tanta desilusão e imobilidade, Chastity conclama “Foda-se o futuro! Continue o mesmo” em Flames. Uma verdadeira homenagem ao rock alternativo dos 80 com suas guitarras à Johnny Marr e vocais à Julian Cope. Mas como diria minha filha de dez anos, “o mundo não gira, ele capota”. Se ontem em algum lugar do passado, o rock foi música de protesto, hoje é jingle de campanha para candidatos populistas de ultradireita, mas parece que pelo menos nesse caso, “o mundo não está mais rindo do dinheiro americano a eleger fascistas”. E no fim do túnel de nossa jornada ao horror liberal-conservador ainda resta uma luz que não foi apagada.

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Ed Motta | The Smiths, “These Things Take Time” | The Smiths, “William, It Was Really Nothing”  | The Smiths, “Please, Please Let Me Get What I Want” | Nirvana | Black Flag | Minutemen | Chastity, “Anoxia” (álbum: Death Lust) | The Smiths, “Still ill” | The Smiths, “This Night Has Openned My Eyes” | Foo Fighters | Inocentes, “Ele disse não” | Julian Cope |

 

Chastity é lenga-lenga com mãos de alface.
E “Die From My Mind” é linda.
Mateus SóSucesso!

Olha, é inevitável: falar desse disco é falar de mim no meio.

Fui adolescente durante a década de 1990, Nirvana explodindo, Dreadful Boys tocava cover dos Pixies em Olinda, circulava no underground e era meio punk, curtia de montão Matalanamão (eu sei, rima pobre), tava explodindo o manguebit… Falando assim parece uma era doirada, aurora da minha vida, adolescência querida que os anos não trazem mais – oh! Bobagem. O circuito independente e do underground nunca foi tão conectado, e de lá pra cá bandas de tudo que é canto do Nordeste e do país já pararam aqui pra tocar, tipo Bosta Rala (quando ainda tava viva, se não me falha a memória), Deaf Kids, Macaco Bong, Jesus Macaco etc, de grátis ou no precinho, só alegria. Nunca tive saudade, não vai ser agora.

Pois é, esse é o problema com Chastity: esse som casaria comigo se acaso eu fosse dado à saudades, mas, dixculpaê, tou fora. A banda é só cacoete de coisas que eram novidade pra mim lá na década de 1990. Já foi, já deu.

Home Made Satan é a guitarra naquela gritaria com chororô distorcido típico dos pedais daquela década, uma merda dum timbre que foi vulgarizado à exaustão pelos clipes da MTV. Rola também a paradinha marota antes de vir alguma verdade anti-sistema tirada da mesmice. Daí, o vocal urge e urge e urge num berreiro ou no chororô ou as duas coisas. Noves fora, Chastity é lenga-lenga tocada com mãos de alface – ‘brigadaê pela metáfora, carinha da internet!

É o seguinte: o que no punk era raiva pé no bucho e mão na cara, a década de 1990 em especial fez o favor de adestrar pra tornar palatável e pungente – tou tirando o Nirvana dessa, certo? Enlatou o “white people problems” (“problemas de gente branca”, ou “classe média sofre” no Brasil), e vendeu às turras. Nascia o indie, aquele estilo Lollapalooza vanguardista universitário do caô bebendo Stella Artois enquanto posa pruma foto em P&B Instagramizada. É difícil pensar que no iniciozinho a coisa toda não era tão assim como virou – o indie, no caso. Mas, deixa pra lá, é assim hoje em dia.

Chastity é um derivativo desses rolés, é um som querendo ser fora do padrão pelo que diz, mas que é perfeitamente encaixotável na forma como diz. É banda de indie, mesmo querendo emular uma pegada de punk. Emular é a palavra, de “emo” (dã).

Não posso dizer que esteja fora disso tudo. Lá atrás no tempo, eu escutava aquele bando de bandas como os próprios Pixies, ou o “Psychocandy” do Jesus and Mary Chain (um dos discos que mais me empolgavam na época), ou Second Come, uma banda carioca que possuía uma faixa na qual eu tinha ideia fixa, “My Cancer”, do disco Super Kids, Super Drugs, Super Gods and Strangers. Na real, eu tinha ideia fixa com essa parada de sons demenciais e ao mesmo tempo agridoces, como o próprio disco do Jesus and Mary Chain sugeria no título. Aqui na cidade (Recife / Olinda – PE) eu era público cativo da The Headsbacon e suas Acerolas Explosivas (grande banda), uma guitar band, nome que a gente dava às bandas que traziam as guitarras pro primeiro plano – na verdade, traziam praticamente pro altar –, bandas de shoegaze num geral. Lia ostensivamente a extinta revista Bizz etc.

Pois é, curto tudo isso ainda. E muito. Só que feijão com arroz todo dia enjoa, é preciso dar uma variada. Sou de uma geração onde o Fla-Flu punk X rock progressivo fazia sentido. Só que fazia sentido porque a gente era zumbi e acreditava nas besteiras que lia – e depois conversava. Depois, percebi que um monte de coisas podiam ser agradáveis, era só pôr os ouvidos pra funcionar um pouquinho. Dito isso, há muito amo Emerson, Lake and Palmer, Yes, Soft Machine etc. Ainda me incomoda o lance de se glorificar uma música ou um músico devido à técnica tão-somente, como rolava no rock progressivo, como ainda rola em parte do metal. Atualmente, vem me incomodando a exaltação feita à letra ou à pose de alguém numa imagem, seja de vídeo, na foto, o que seja. Mas, quer saber? Isso tudo a gente dribla e segue assobiando, vey.

E onde Chastity entra nessa digressão toda? Chastity é essa agressão adocicada. É essa pose num clipe; num deles, o da faixa “Innocence” do disco anterior (Death Lust), Brandon Williams, o compositor da banda, põe sei lá quantos guitarristas pra fazer o som que uma ou duas guitarras já dariam conta, como milhares de bandas já deram provas à exaustão (My Bloody Valentine, Sonic Youth etc etc etc). Chastity é essa banda soando Nirvana numa época dominada pelo Lollapalooza de um lado – eu sei, já tem um monte de festivais mais up-to-date pra txurminha de hoje – e o Trump do outro. É uma banda com aquela afetação ultra-romântica em tempos inglórios. É a aparência de que é básico numa época de ostentação. É muita aparência. É muita aparência de urgência. É muita insatisfação que não convence os ouvidos furados de cá.

Só que ao contrário das últimas bandas que resenhei e que fiz cara de quem comeu jiló (falo isso, mas, confesso: eu amo jiló), Chastity ao menos rendeu uma canção que me deixa com vontade de olhar pro infinito como quando eu escutava “My Cancer” do Second Come: “Die From My Mind”. “Die From My Mind” é um single que não está em Home Made Satan.

Quer um conselho de ouro? Esquece essa resenha, e fica só com essa música.

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Nirvana | Pixies | Matalanamão | Bosta Rala | Deaf Kids | Macaco Bong | Jesus Macaco | Emo | Pixies | Jesus and Mary Chain | Second Come, “My Cancer” | Emerson, Lake and Palmer | Yes | Soft Machine | Chastity, “Innocence” [o clipe] | My Bloody Valentine | Sonic Youth | Chastity, “Die From My Mind” |

 

>FICHA TÉCNICA:

Chastity é:
Brandom Williams: vocal, arranjador e letrista.
Liam Sanagan: Compositor e integrante.
Keegan Powell: Compositor e integrante.
Julia Noel: Compositor e integrante.
Sam McDougall: Compositor e integrante.
Jeremy Ramos Foley: Integrante.
Simon Larochette: Integrante.

Selo: Dine Alone Music Inc.
Direitos Autorais: Chastity.

Produção: Brandon Williams.
Masterização: Jeff Hartling.
Mixagem: Simon Larochette.

Direção de Arte: Brandom Williams.
Layout: Ryan McCardle.
Foto da Capa: Scarlett Rose.

RÁDIO ACONCHEGO, Recife-PE: Alerta AntiFascista!


Nota da equipe da SóSucesso! contra ameaça à Rádio Aconchego.

Somos um blog de crítica. Não somos frios ao falar do que amamos. Tudo em nós é feito de paixões no talo, e aqui tentamos deixar registrado um pouco daquilo que nos faz ser o que somos até hoje. Ou seja, música. Pra nós, ela é começo e é fim.

A Rádio Aconchego, uma rádio comunitária de Recife-PE, está sendo ameaçada por pessoas das quais não sabemos a origem. Apenas disseram que a Aconchego seria de “comunista… que gosta de uma maconha”. Numa situação como a que vivemos no Brasil de hoje – ou de sempre, tanto faz –, não cabe fazer de conta que não pisamos no mesmo chão, fazendo cabeça de avestruz, fazer de conta “que não viu e não é comigo”. Uma rádio comunitária, popular, autônoma, sem jabá e que não pratica proselitismo religioso definitivamente está no mesmo chão que o nosso – especialmente nós, que fazemos do som nosso norte. Neste instante difícil, contagiados e contagiadas deste espírito, rodeamos de solidariedade os companheiros e as companheiras da Rádio Aconchego. Pois solidariedade deve ser mais que palavras. É obrigatório que seja mais que palavras.

Contem conosco!

E façamos coro com o Sin Dios, banda anarco-punk espanhola: “Alerta alerta alerta antifascista!”.


>Segue a nota da Rádio Aconchego:

*ATENÇÃO!*
Recebemos uma ligação hoje de uma pessoa supostamente representando outras rádios, às quais a Aconchego estaria interferindo. *Gostaríamos de deixar geral de sobreaviso para potencial necessidade de proteção física da Rádio, pois a pessoa ameaçou fazer uma denúncia à PF*.

3 hipoteses:
– Ele falou a verdade
– Ele representa alguma rádio evangélica com a qual estamos disputando a frequência
– É bolsominion

A 1ª achamos difícil pq ele não sabia sequer a frequência da Music FM, uma das rádios que ele disse representar.
A 2ª e 3ª são muito prováveis. No final da conversa quando eu retrucava com nossos argumentos de legitimidade de ser Comunitária (ademais da lei que diria oq é ou não comunitária) a pessoa retruca dizendo que meus argumentos parecem indicar que sou “comunista… que gosta de uma maconha”.
*Alerta, alerta antifa!*


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Sin Dios, “Alerta AntiFascista” |

Ancient Methods, The First Siren [GER, 2017].

 

Reverência, peso e método: mais do mesmo de Ancient Methods.
Aroldo SóSucesso!

Ancient Methods é um dos grandes do chamado techno industrial, um modo de fazer techno que beira o heavy metal e bebe muito do som EBM dos anos 80. “Ser grande” aqui significa ser resenhado pelo site especializado em música eletrônica Resident Advisor e pouca coisa mais, que fique claro. Não obstante ser underground, a música de Michael Wollenhaupt, o sujeito por trás do projeto, tem uma produção que parece ter custado muito mais do que provavelmente custou. Num momento em que dá pra criar praticamente qualquer som imaginável, essa exuberância da forma se torna a norma na música clubber.

Entre adeptos, o que se vai fazer é elogiar ou detratar o “sound design” (termo meio fetiche dessa gente) de Ancient Methods, mas raramente dar um adjetivo preciso, porque a maioria não sabe muito bem o que o termo significa. Nem eu, mas vou fazer o meu salto de fé aqui e me arriscar a dizer que o trabalho de Wollenhaupt e em particular o de “First Siren” tem um sound design cinzento, pesado e cheio, mas cheio mesmo, repleto de tudo que é sonzinho. Como disse um amigo meu uma vez sobre uma banda com elementos eletrônicos, “o cara que aperta os botõezinhos é bom”. Bem, aqui só existe esse cara. E ele é bom.

Mas, afinal, Aroldo, que puerra esse cara faz aí que você fica todo babando o homem? Bem, é música para dançar, mas funciona incrivelmente bem deitado na cama com bons fones de ouvido e maconha na cabeça (me disseram). Essa gente de cujo estilo de techno chamam de dark (ai, que meda) ou industrial (termo equivocado, porque isso aqui tem muito pouco a ver com Throbbing Gristle ou com o Cabaret Voltaire inicial) faz, obviamente, techno, música dançante puramente eletrônica para as pistas, só que incorporam ideias de artistas lá dos anos 80 e início dos 90 como Front 242 e Front Line Assembly (dois dos muitos exemplos possíveis). A música continua dançante, mas o que já era meio quadrado (em essência, o techno é bem menos fluído e rebolativo que a house, pra ficar numa dicotomia clássica) fica ainda mais, e mais pesado e sombrio. Uns fazem isso de um modo um pouco mais orgânico, como a dupla sueca de identidade desconhecida SHXCXCHCXSH (adoro esse nome), outros parecem querer soar como trilha sonora incidental do filme A Bruxa como o também anônimo sujeito atrás do SNTS, e há muitos outras abordagens possíveis, mas eu não citei esses dois à toa; há temas em comum entre eles e muitos dos outros: o mistério (quem são eles? oh Mein Gott!), os nomes estranhos (ou seja, mais mistério), a música cheia de detalhes sonoros ainda que fundamentalmente monocromática e cinzenta. E há muitas mulheres fazendo música malvada no techno, como Rebekah, Xosar, Charlotte de Witte. Finalmente, nem tudo é “dark” ou com fixação por ser mais alto, mais cru ou mais soturno. O que parece unir essa vertente que não é tão coesa assim, o que é ótimo, nem talvez exista como um movimento claro (melhor ainda, isso aqui não é um rebanho) é esse elemento tão difícil de definir quando não há guitarras nem bateria, o peso. É a capacidade de oprimir enquanto bota para dançar que faz com que um produtor ligado a sons acid e electro como Umwelt (que também é um melodista de mão cheia) e um rapaz talentosíssimo como o jovem francês por trás do I Hate Models, Guillame Labadie, que tem a manha de fazer épicos que conseguem ser sensuais e conter carga emocional de modo que só as melhores faixas house conseguem, sejam vistos de algum modo como similares.

Agora que eu mostrei que entendo do métier citando 50 artistas, acho que vou falar desse EP. Wollenhaupt, ao menos neste projeto, checaria quase todos os quadradinhos do teste “o quanto você é um techno industrial clássico?” que a Vice certamente vai soltar um dia. Tirando que ele mostra o rosto e tem um nome pronunciável, de resto ele incorpora o gênero como talvez nenhum outro. A música é pesada, solene e mesmo sendo tão detalhada, soa cinzenta. Aqui não há lugar pra delicadeza (o que ele meio que conseguiu com um coral angelical em “Untitled A1” do seu quinto lançamento, Fifth Method), pra dinâmicas sutis; a música começa pesada e daí é só morro acima. Não é o melhor dele, está longe do brilhantismo em “Knights and Bishops”, faixa de Seventh Seal (deu pra perceber que eu entendo do métier?), mas é um EP com três boas faixas, com destaque para a mais lenta, “Born of Ashes”, e uma faixa introdutória (“Remember Me”) que se queria atmosférica mas acaba mesmo é sobrando.

OK, já deu, cacete, num guento mais fazer resenha dessas merdas, primeiro aquele negocinho que não ia pra lugar nenhum, depois aquele maluco gritando com aquela bateria no meu ouvido, e agora vocês foram longe demais, se aproveitando das minhas dificuldades financeiras pra pesquisar porra de bate-estaca beep beep tóim tóim, isso é um noiado, porra, vocês me disseram que a gente ia resenhar roque de verdade, sonzeira trampada, porra de techno, véi, e cadê a cor dessa grana, porra?!?! Mas como prometido, lá vai a nota:

– Nota sob efeito de substâncias estupefacientes: 11!

– Nota sóbria: MOOOOOOORRRRAAAAMMMMM! Cadê meu Led Zep IV?!

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EBM | Resident Advisor, resenha de The First Siren | | Throbbing Gristle | Cabaret Voltaire | Front 242 | Front Line Assembly | SHXCXCHCXSH | SNTS | Rebekah | Xosar | Charlotte de Witte | Acid Techno | Electro Techno | Umwelt | I Hate Models | “Untitled A1” | “Knights and Bishops” | Led Zeppelin, “When The Levee Breaks” |

 

Industrial Techno ou uma questão de método.
George SóSucesso Yeah!

Ao ouvir o EP The First Siren (2017, Persephonic Sirens) do DJ e produtor de industrial techno alemão Michael Wollenhaupt, a.k.a. Ancient Methods, a primeira coisa que me veio à cabeça, em um misto de mau-humor e ignorância, foi que estava diante de mais um disco anódino de música eletrônica cheio da retórica de música-feita-para-dançar. Uma água de arroz, que você escuta uma vez, dança e esquece como aquelas coletâneas Ibiza Summer Hits. O disco, apesar de querer exalar uma seriedade no continuum dos beats e uma gravidade em sua métrica de rolo compressor, resvalava em certo ar de paródia, com todo seu aparato estético wannabe EBM. Foi quando percebi que certos discos exigem uma outra chave de leitura. Após alguns contatos imediatos, resolvi repetir a experiência e, a primeira parte do problema, o mau-humor, foi resolvida. Descobri em estado de puro ecstasy (entendedores entenderão) nuances nunca vistas no disco. Justaposições, rotações e sequências que me remetiam ao melhor da italo-disco em “Born to Ashes”, uma batida industrial records em “I am a Blazing Sound” e a EBM futurista e delirante de “Now Come Closer”. Toda aquela baboseira medieval fazia sentido e tudo estava interconectado, até a introdução pretensiosa de “Remember Me” e seu canto gregoriano me soou simpática. Quando dei por mim estava pulando na varanda feito um louco, escutando o disco em repeat sem perceber que a campainha já tocava há meia hora com a fúria dos vizinhos. Senti-me como aquele fã de Whitney Houston que após escutar “I Will Always Love You” por mais de 24 horas consecutivas foi processado por seu vizinho por tortura psicológica devido aos quatro acordes repetitivos da canção. Ainda bem que o efeito…hum, do disco acabou rápido e os vizinhos não acionaram a policia.

Superada essa etapa “tautológica”, restava ainda outra parte da equação: a minha ignorância não só em relação ao lugar e ao contexto do disco dentro da música techno como ao meu baixo nível de conhecimento sobre a mesma. Decidi, então, embrenhar-me na densa floresta dos gêneros, subgêneros da música eletrônica de 120 bpms.

Do minimal ao brutal, o techno passou por diversas fases desde que quatro estudantes negros de Detroit-EUA, Juan Atkins, Kevin Saunderson, Derrick May, conhecidos como The Belleville Three, resolveram que já não era suficiente apenas escutar Frankie Knucles – o chefão do house – e Kraftwerk e trocar mixtapes. Era urgente acelerar tudo isso. Esses “tecnorebeldes” de posse das inovações tecnológicas disponíveis nas prateleiras da loja de música da esquina, uma rythm box, um sequenciador e uma bateria eletrônica TR-808, criaram um ritmo que para sempre iria modificar as pistas de dança e a relação entre corpo, mente, dança e música. Um fruto estranho da alienação entre homem e máquina intermediada pela pista de dança. Uma forma de atingir elevação espiritual a partir da cultura de design drugs (drogas experimentais desenvolvidas em laboratórios como ecstasy e MDMA), colocando o corpo em segundo plano até a exaustão física pela dança para atingir um processo de expansão mental e espiritual por meio da música. Uma forma de a classe operária ir ao paraíso sem precisar da “alta cultura”, nem prescindir daquilo que estava ao alcance da rádio. No techno, mais uma vez, estava presente o combo pop krautrock + eletrofunk da house music, agora, acrescido do beat acelarado da eurodisco de Giorgio Moroder. Segundo Simon Reynolds, Moroder teria em suas batidas quadradonas, mais fáceis de dançar do que o ritmo sincopado do funk, o motivo de sua maior aceitação pelo público branco. Uma discussão que deixaremos para outra resenha.

Assim como a house music, o techno unia a necessidade de dançar com a urgência de produzir uma música que não passasse pelo algoritmo baixo/guitarra/bateria/vocal. A diferença estava na velocidade dos beats e de sua reprodução mundo afora. O techno em uma demonstração exemplar do poder metamórfico da música eletrônica e seu processo de retroalimentação por outros gêneros, espalhou-se pelo mundo afora virando prefixo para qualquer tipo de música que usasse sampler, remixes ou batidas eletrônicas. No entanto, ao se encontrar com a EBM de Nitzer Ebbs e Front 242s, acaba por se transformar nos anos 00, no chamado industrial techno, um gênero agressivo e sombrio, reunindo artistas como Adam X, Orphx e… Anciet Methods. Ufa, após essa exaustiva pesquisa por algumas páginas de música como Residente Advisor, Boomkat e AllMusic e audição de alguns luminares do techno como Jeff Mills, Adam X e Joey Beltram, assim como de outros discos (Jericho Records), projetos (Room 506) e parcerias (com Prurient) do próprio Ancient Methods, cheguei à conclusão que a minha chave de leitura inicial estava correta. Porém estava diante de um grande enigma: como pode um artista tão fértil, produzir um disco tão frágil em suas pretensões estéticas?

A música de Ancient Methods tem como principal forma a agressividade e busca atingir lugares recônditos da psique por meio de uma intersimbiose de sons esdrúxulos e paisagens sonoras inefáveis que remetem a imagens do medievo. Em The First Siren, ele tenta tudo isso, mas não consegue. Mesmo após toda a minha pesquisa dissociativa, permanece o cacoete Ibiza. Como em toda boa tentativa, o resultado é apenas medíocre. Conhecido como um dos criadores do dark industrial techno, e artista prolífico, Wollenhaupt, é a prova de que um artista pode, e deve se arriscar, mesmo que nem sempre o resultado seja um grande álbum ou um divisor de águas. Talvez, seja essa a maior lição a se aprender com o disco e a mais importante característica da música techno, e onde reside sua popularidade e longevidade: a capacidade de ousar, errar, acertar, ser prolixo e no caminho aprender com os próprios erros criando não só novas formas como novos métodos.

>>Pra sacar mais, clique no amarelinho:

Ibiza Summer Hits | Fã de Whitney Houston processado | The Belleville Three | Frankie Knucles | Kraftwerk | Giorgio Moroder (com Donna Summer) | Simon Reynolds | Nitzer Ebb | Front 242 | Adam X | Orphx | Jeff Mills | Joey Beltram | Room 506 | Ancient Methods com Prurient |

 

Diz que é pesadelo, mas teu mal é sono.
Ancient Methods, um picolé de chuchu.
Mateus SóSucesso!

[Gente, sério, tentei ser sério e tudo mais ouvindo The First Siren, EP do DJ alemão Ancient Methods / Michael Wollenhaupt, só que daí veio esse vídeo de Farvann – “Como black metal soa pra pessoas normais” – que resumiu o porquê da minha mágoa, que segue:]

Climão. Tudo é anunciado como num filme chocho de suspense que faz você se embrenhar naquele ambiente de mato na escuridão, só que daí você desperta que tá comendo pipoca em casa à tarde em torno da TV num programa família – em poucas palavras, você é um Homer. Érr, bem, Sir Ancient Methods e seu The First Siren começaram. Inicialmente, fazendo a linha cidadão de bem com Deus, você até ensaia medinho. Daí, de medo, tu boceja. E como todo bocejo, um bocejo leva a outro bocejo. Segue.

Olha, eu digo aqui que The First Siren começou, mas pra mim já encerrou, não vou mentir… É todo um sonzão metálico querendo te levar prum passeio lá pela Avenida Sul em Afogados-Recife de madrugada procurando um ônibus que não vem, você pensando em alma sem nenhum pé de alma, daí um gato dá um bote na tua frente, um cachorro sarnento ali naquele canto rodeado por latas vazias de Coca-Cola, você imaginando Jason (Sexta-Feira 13 – Parte 2) dando um bote também, Deus misericórdia… enfim, você já entendeu. Tudo nesse disco diz que vai te levar pra andar pelo lado selvagem da vida. Mas é só Toddynho.

Desculpem, mas parando de pichar um pouco, The First Siren é um disco de dance music, de techno, de techno dark. Só que e quico?

Existe uma tendência na EDM feita pra pistas – caso desse disco, acho –, do som que é puro instrumento de pista, de fazer álbuns pra lançar tracks – mais um anglicismo desnecessário usado no meio; nera mais simples chamar de “faixas”? Porque é isso, as faixas têm uma utilidade, e o sentido útil de algo ser foda em arte é sua natureza não mensurável, ou seja, inútil. Não é o caso desse tipo de música, utilitária que é. Dizem que música é abstração e desejo último da obra de arte, sua elevação. Só que, metaforicamente, o sentido último desse tipo de som não é o do sabor que leva à reflexão guiada pelas mãos do chef – não curto muito essa imagem, mas é a que me vem pra hoje. Aqui, é só paladar pouco ou nenhum. É só a colher indo em direção à boca. Parece cocaína, mas é só tristeza, já diria Renato.

Quando o álbum me foi apresentado pra essa resenha, foi-me dito que “Ancient Methods faz a diferença, faz arranjo, procura parcerias tipo com o Prurient [a faixa dessa casadinha é bem boa, por sinal] etc”. Aí, eu: “Prurient? Uau!”. The First Siren, nosso mote aqui, até parece chamar pra dor e tal. Parece só.

Tentei de todas as formas ver se o problema tava comigo, catei o disco no Soulseek porque o link já não estava mais no YouTube, baixei, fiz de tudo, tentei, velho.

Tá, vou parar de rabugice, e vou tentar fazer aquela descrição rápida, até porque o disco é rápido, dói nada – o problema talvez seja esse. “Remember Me”, o canapézinho de entrada, dá o climão de entrada. Daí, “Born of Ashes” fica naquela coisa de você no ônibus olhando a cidade passando ali perto da Estação Recife de metrô à noite, aquela iluminação amarela dos postes quando acesos daqui, com tudo passando rapidinho na vibe “clipe de trem”, sabe como é? Em “I am Blazing Sound” é tipo luz estrobo direto na tua fuça, tu tentando felicidade na pista, mas tudo prenunciando a merda da dor de cabeça amanhã. “Now Come Closer” é techno, só que numa pegada meio EBM, aquele gênero que a naftalina derreteu e as baratas comeram – tem o Front 242 com umas coisas que ainda são interessantes, o Nitzer Ebb, e tem uma banda alemã mais recente que me mostraram um tempo desses que é massa também: Jäger 90. Ancient Methods já disse em entrevista a influência desse estilo no techno europeu e, indiretamente, naquilo que ele mesmo faz.

Bem, descrevi.

Vey, rola uns lances que vão na esteira techno que eu aconselho mais, tipo Adam X em “Irreformable” e Powell em “Insomniac”, por exemplo. Bem, Powell não é algo exatamente soturno e soa mais como um techno da fuzarca que usa de leve defeitinhos de computador, com um resultado que não passa desapercebido, várias composições saindo do padrãozinho de pista, aquele padrãozinho de travado até virar robô. E confesso um lado meu de tiete ao citar “Insomniac”, pois rola Steve Albini nessa faixa, o cara do Big Black – uma das coisas realmente incríveis da década de 1980 – que ficou mais famoso como produtor de discos como o In Utero do Nirvana e Sufer Rosa do Pixies.

Adam X, aliás, é bem quisto pelo moço razão dessa resenha.

Sim, eu sei, só rolou amargura nesse artigo, não era bem a intenção, mas ao menos The First Siren me fez retomar a escuta de Jeff Mills, um dos pioneiros do techno, e sacar melhor umas composições e a história dele. Daí, nas conversas pra chegarmos ao texto, saquei o Underground Resistance, um combo artístico techno que teve Mills como um dos impulsionadores iniciais, algo que me atiçou a curiosidade. Tou pesquisando mais sobre – até entrei nesse site muito assunto aqui, só que meu computador é uma carroça e travou…

Pra quem inicialmente tava chamando Ancient Methods de água de arroz, até que saíram algumas emoções nesse texto, né?

Próximo!

>>Pra sacar mais, clique no amarelinho:

“Como black metal soa pra pessoas normais”, por Farvann | Jason, Sexta-Feira 13 | Legião Urbana, “Há Tempos” | Prurient + Ancient Methods | Prurient | “Remember Me”, o canapé | Front 242 | Nitzer Ebb | Jäger 90 | Ancient Methods, entrevista pra DJ Mag | Adam X, “Irreformable” | Powell, “Insomniac” | Big Black | Nirvana, In Utero | Pixies, Sufer Rosa | Jeff Mills | Underground Resistance, mini-documentário | Underground Resistance: site muito assunto |

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OBSERVAÇÃO: Se você achou nosso tratamento ao senhor Wollenhaupt abusivo, pode até nos processar através deste link aqui (mas, cuidado, dizem que os métodos dele são muito antiquados): https://notos.de/en/ra-michael-wollenhaupt/

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>FICHA TÉCNICA:

Todas as faixas compostas por: Michael Wollenhaupt.

Selo: Persephonic Sirens.

Masterizado por: Christoph Grote-Beverborg (Dubplates & Mastering, DE).

Prensado por: Record Industry – 18079.

Test, O Jogo Humano [BR, 2019]

[Pra ouvir, clique aqui.]

 

Test além do luxo. Afinal, lixo é ser luxento.
Mateus SóSucesso!

“O Test é o baterista”.

Já ouvi essa dos outros, e realmente o tecnicismo de Barata, o baterista, impressiona. A questão é que na trituradeira do grind a bateria é o prato principal. Senão não triturava. Grind é ritmo e podreira. A bateria então dá o arranque, né?

É muita preguiça chamá-los de metal, ou apenas e somente grindcore, mesmo que façam lá e lô. Claro, eles têm um pé fincado nessa onda técnica do metal – aquilo a que reaças do estilo chamam de “trampado” –, como também no punk, na coisa de não ser metido à besta e daí fazer nariz de cocô. Quer dizer, eles poderiam ser chamados de “presunçosos” – como na preguiça dizia a extinta revista Bizz –, porque isso tudo no miúdo é uma suíte. Estranho, né?, uma suíte feita em cima da miudeza do tempinho de segundos ou uns nada de minutos por faixa. Mas é isso, é uma suíte, só que sem o praquêisso do fraque mental que virou música feita pra concerto – como se concerto não fosse nos finalmente um show.

Na realidade, O Jogo Humano é a exuberância da bateria com a precisão retesada da guitarra e do bafo profundo de JKombi no microfone se entramelando com a ruideira toda. É conciso, cirúrgico, seco, todo trabalhado nas dinâmicas, música de invenção como se vê pouco. Não serve pra crepe, é pra engulhar o vinho.

Já se viu isso antes na real, mas sem o conservadorismo [de um setor do] metal de criar standards, essa ideia fechadinha standard de como deve ser a dinâmica e a criação. Fazendo paralelo, Ruins e Lightning Bolt são as duas bandas que vêm imediatamente à cabeça. Duas que também vão na vibe da dinâmica de quebradeira do baterista, ruideira e pouco assunto nas cordas do outro membro – érr, este último ponto das cordas aí não é exatamente o caso dos Ruins… As duas são duo. As duas trabalham com improviso. Na real, as 3, o Test também é dois brodagens e também é improviso puro, tanto que eu não sei qual é o verdadeiro O Jogo Humano, vi umas duas ou 3 versões por aí pra escutar. Estranho, eles improvisam em tudo, incluindo o próprio disco, com várias versões dele, e a própria forma-canção, sim canção, pois eles trabalham nessa forma, mesmo que você não entenda nada a não ser ouvindo e ao mesmo tempo lendo o que JKombi diz. É estranho esse lance do som extremo, especialmente quando vindo do punk: você não entende nada do que a galera diz, mas mesmo assim pro público o conteúdo que é dito é tão importante quanto o modo como é dito. Bem, tem um YouTube com uma das versões desse disco do Test pra você acompanhar lá as palavras. Urros, na real.

Essas 3 aí – Ruins, Lightning Bolt, Test – são 3 bagúi saídos de um mesmo balaio de noia. Ruins é mais, sei lá, limpinho (que as outras, é preciso alertar), Lightning Bolt é quase que só o baterista produzindo barulho com a bateria + um baixo distorcido que é praticamente um apêndice (mas que mete demão no alvoroço), e já o Test é a fusão da dinâmica bruta da guitarra com a bateria trituradora crua e, sim, técnica. São 3 efeitos distintos de uma mesma xucrice, de uma mesma razão e de um mesmo desejo. Só que Ruins fica zunindo feito mosquito no ouvido. Lightning Bolt é uma maçaroca. E Test você sabe qual é o quê dos ingredientes mesmo sendo tudo uma grande grosseria, o que certamente os diferenciam do grind vindo do punk como, por exemplo, o Extreme Noise Terror, aquela coisa sonoramente indivisiva – e ao mesmo tempo supimpa – de gente “ruim”.

Só que rola uma bronca nisso tudo, nessa digressão toda. Os caras do Test seriam um Pokémon do gênero em estágio avançado, uma versão bem talhada que se extraiu desse diamante bruto, o grind. Isso é um troço estranho. Existe toda uma ideia de atraso que põe uma pá de cal naquilo que a gente mais ama, como Lester Bangs alertava com insistência – nota rápida: Lester Bangs é um crítico estadunidense que se tornou clássico. Fizeram isso com um monte de coisas massa. Fizeram isso com a música clássica. Fizeram isso com o jazz. Fizeram agora com o rock. Me surpreendi quando vi que pra uma certa galera coisas como Led Zeppelin hoje têm uma comenda de qualidade, um troço bisonho, porque eu quando era pirraia só escutava que rock era excremento. Cresci ouvindo isso, e concordo que a grandeza do rock estaria no seu anti-aristocratismo; pois é, cara pálida, ledo engano: ESTARIA, a fila anda e a galera põe seu dedo de Midas pra que tudo vire merda, e o que era uma promessa de horizonte se torna um fracasso retumbante. Ou seja, o que é pra ser chão, seja objeto pra “poucos”. Fetichismo de peça única de mercado.

Falei pra caralho pra dizer que o Test tem esse problema em potência, ou seja, de tornar-se mimo e nata para paladares de cara de nojo – o famoso “careta” –, crème de la créme. Test pode ser tido como “jazzy”, um qualificativo que poderia torná-lo algo distinto – no duplo sentido – entre seus pares, aquele que paga de diferentão com aquele óculos de aro de tartaruga. Mas, bem, os caras são raçudos, são outro percurso, andam por aí trazendo esse sol de esperança nesse Brasil adverso. Chamou, eles vêm (isso aqui é literal), tipo Beetlejuice (ou “Besouro-Suco” d’Os Fantasmas se Divertem, no Brasil). Que bom. Que continuem assim. Cheguem junto, sejam esse anjo torto que Torquato Neto (esse poeta tropicalista invocado e batuta) anunciava, continuem desafinando, tragam esse sorriso pra quem curte o chão, vida de rua, não esse Jetsons que Recife tá se tornando com seus espigões, dia após dia, esse mundo de shoppings e lojões de departamento com cara de nada. O som tem que tá onde estão as pessoas, não numa arena pra milhões e ninguém. Pois aquilo que é pequeno tende a ter bases sólidas quando vira maior. Não se esfarela fácil.

Arrematando: em cultura e arte, Test – essa banda de SP – é tal como trabalho de formiguinha. Test é real. Como poucas. Como as batalhas de rap aqui, em Recife. Como poucos. Infelizmente.

>>Pra sacar mais, clique no amarelinho:

Ruins | Lightning Bolt, “Dead Cowboy” | Lightning Bolt, “Dracula Mountain” | Extreme Noise Terror | Lester Bangs | Led Zeppelin | Jards Macalé & Torquato Neto, “Anjo Torto” | Torquato Neto |

 

Test e seu O Jogo Humano, um negócio tão bom que competiu com Dusty Springfield no meu coração.
Aroldo SóSucesso!

Estava andando pelo Recife num dia chuvoso, ouvindo O Jogo Humano da dupla Test, sem saber o que pensar, quando uma cena, se não me forneceu uma chave, ao menos atiçou uma sensibilidade: um homem comum urinava num portão ostentoso do rico Colégio Salesiano. Agora, pelo menos um videoclipe eu já tinha no meu repertório de experiências com as quais comparar, pensar, fruir o álbum. Um videoclipe bem peculiar, real no sentido mais puro que concebo: acontecendo na minha frente, com carne, osso, cimento e ferro.

O Jogo humano é, por um lado, a realidade crua, suja, decadente, deprimente (os adjetivos negativos não têm fim, na verdade) que se mostra ao sujeito urbano o tempo todo, sempre de cara nova e sempre a mesma, é o colégio dos poderosos. Por outro lado, porque senão eu não me disporia a falar disso, também é sublimação musical, mas de um modo que reconhece, NO SOM MESMO, a dor de ser gente. O homem urinando no portão enorme da escola de ricos vazia pode não achar que esteja fazendo qualquer coisa de diferente, mas a mim formou a pintura, com a ajuda da música do Test, do excluído gozando do seu quinhão de vingança possível naquele momento. Com a chuva e a rua vazia, finalmente ele pôde aliviar a bexiga do modo mais digno: sem ter que procurar uma área escondida e calhando de ser num símbolo daquilo que o oprime.

O Test vai pelo lado da música pesada que não busca escapismo, fantasias de poder viril; quando se fala de música extrema aqui, o termo não é um devaneio de auto-engrandecimento, mas constatação de que essa música está no limiar de não ser mais música, de se transformar de vez no som caótico do cotidiano opressor das grandes cidades; a dinâmica da canção popular não interessa porque é abstrata (ou seja, não representa nada exceto ela mesma) e foge dos problemas da existência, mas também não interessa a produção de ruído puro, porque qualquer máquina (que é construída para obedecer aos humanos detentores do poder) é capaz de fazer isso e o resultado é opressão pura e simplesmente. Test é sublimação que pretende devolver a si e aos ouvintes as rédeas daquilo que é inescapável, para que, mesmo que esse controle seja temporário, ele possa dar espaço a uma consciência permanente.

Essa sublimação dura, espelho crítico do real, fica patente nos timbres ásperos da guitarra e na bateria que soa como uma barra de ferro batendo em maquinaria de fábrica. O jogo humano aqui não é lúdico, não é entretenimento; é um jogo no sentido de refletir o aparato do ruído industrial, do mercado, da pressa da rua, do trânsito infernal, de toda a merda urbana que invade nossos quartos (porque inclusive permitimos), e devolvê-lo expurgado, desde que percebamos que, se a vida de agora inevitavelmente é assim, que se possa deter algum controle simbólico sobre ela.

O Jogo Humano é um álbum, na acepção mais e mais em desuso no mercado de que haja um sentido que unifique um grupo de faixas lançadas juntas, mas que subverte os princípios idealistas de autoria que levaram a essa concepção, porque aqui não temos canções em UMA sequência que visa a extrair do álbum a dinâmica que gravadoras ou músicos imaginam como A melhor. Aqui, temos blocos curtos que permitem ser combinados segundo as idiossincrasias de quem ouve, a partir de uma lógica combinatória que pode jogar com os sentidos oferecidos pelos títulos, pelo som, por tudo isso e até por nada disso, criando-se novos significados e panoramas a cada audição. Essa autonomia do ouvinte e da ouvinte só me parece possível porque os blocos são diversos o suficiente para, combinados, criar “canções” com dinâmicas únicas, mas também similares o bastante para que a cadência se mantenha e permita a percepção de se estar ouvindo/criando partes de um todo, ou melhor, de vários todos.

O que o Test faz aqui é uma obra humanista mesmo, uma experiência em que, simbolicamente, esses grandes latões industriais de moer gente são temporariamente apropriados pelo indivíduo, que agora pode se libertar do jugo da produtividade que não é a que vai pro seu bolso, e usá-los para criar música. Apesar de usar instrumentação convencional do rock, o que o Test consegue aqui ressoa com a lógica musical de bandas industriais como Einstürzende Neubauten e Test Dept, que buscavam tirar música de objetos industriais pesados, que, justamente por serem, em sua origem, instrumentos de opressão bruta, podiam ser, por assim dizer, cooptados para representar o negativo da opressão, a parte também dura, lancinante, barulhenta, mas agora recebendo sentido pela parte oprimida. E deve ser muito difícil se posicionar estética e eticamente em oposição às grandes corporações usando um piano de cauda (mas aceito dicas de artistas nessa linha).

Voltando ao caso do homem que urinava, me ocorreu naquele momento como O Jogo Humano é um pouco como música ambiente; não algo como Brian Eno, mas um muzak pra uma caminhada por paisagens que o ser humano criou, feias e belas a um só tempo, muitas vezes sintetizadas num mesmo objeto. Não é a minha praia, eu que ando ouvindo muito Dusty Springfield, mas é foda.

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Einstürzende Neubauten | Test Dept. | Brian Eno | Dusty Springfield |

 

Um jogo de armar chamado Test.
George SóSucesso Yeah!

De vez em quando, no multiverso da música pop, alguns artistas conseguem, seja em um disco específico, seja na obra como um todo, ultrapassar as fronteiras de certo estilo e levar às mais extremas consequências as possibilidades de abertura criadas pela quebra de preconceitos de gêneros e sectarismos de estilo, alcançando uma nova forma que desafia conceitos e rompe com os limites da verossimilhança imposta pelo mercado. No jazz esse tipo de inovação pode ser visto na obra de Miles Davis que não satisfeito em desafiar os limites do próprio estilo e inventar o cool jazz, dissolveu as barreiras entre o jazz e o rock, gerando no Bitches Brew, uma nova forma de se encarar o jazz dentro do rock e vice-versa, desbravando novas trilhas que permitiriam a bandas como os Stooges tocarem em festivais de jazz nos anos 70 (o próprio Miles era fã da banda) e a artistas de jazz como Herbie Hancock e Quincy Jones alcançarem status de pop stars. Na virada dos setenta, a revolução precog (termo usado em ficção científica para denominar a capacidade de antever eventos do futuro) do Throbbing Gristle, encabeçada por Genesis P-Orridge e Cosey Fanni Tutti arrancou o pop da prisão formal de guitarra/baixo/bateria/vocal e estilhaçou as divisões entre arte-música-indústria e revolução, criando uma forma completamente nova de espetáculo no qual o público é convidado a se confrontar com seus próprios medos e preconceitos, transformando seus “shows” em autênticas sessões de psicanálise coletiva. Uma forma de arte verdadeiramente catártica chamada de música industrial. Já nos 90 essa mistura de sons e quebras de barreiras começa a atingir a assim chamada música de peso, e se por um lado este se suaviza e abraça o pop com o grunge, por outro, ajuda a transformar estilos extremos antes relegados a uma subcultura como o death metal e o grindcore em um novo gênero que ultrapassa as preconcepções do estilo até chegar no estágio de uma música com o caráter altamente experimental. Se esse fenômeno já vinha acontecendo dentro da própria estrutura da musica pesada a partir do surgimento do crossover (mistura de thrash metal e punk/hardcore), é com o jazzcore de bandas como Naked City de John Zorn, Painkiller, formada por Mick Harris, membro fundador do Napalm Death, Bill Lawswell e o próprio Zorn e ainda com os milhares de experimentos ligados à franquia Mike Patton, que as estruturas do edifício do metal serão implodidas levando consigo as limitações enfrentadas pelo gênero. É nesse cenário que os anos seguintes veem surgir uma explosão de subgêneros como o noisecore, deathgrind, electrogrind e o próprio harsh noise, que mesmo sendo mais antigo acaba por se retroalimentar dessas novas correntes aprofundando ainda mais o caráter experimental da música pesada. No Brasil, apesar de lutarmos pelo título de criadores do grindcore com uma banda que era grind antes do grind existir, a Brigada do Ódio, a experimentação em nosso som pesado, limitou-se muitas vezes ao uso de elementos como os sintetizadores e teclados no terceiro disco do Sarcófago, ou ao crossover paradigmático do Ratos de Porão no Anarkophobia e ainda o disco Roots do Sepultura.

Nesse sentido é que surge como uma erupção na bolha da pasmaceira de nossa música o disco O Jogo Humano, do Test. Um dos discos de música pesada e ao mesmo tempo pop mais experimentais lançados nos últimos anos. Um brinquedo de armar construído a partir da ideia de Júlio Cortázar no livro O Jogo de Amarelinha (no qual o leitor é convidado a escolher a ordem de leitura dos capítulos), só que com metrancas ou blast-beats no lugar do jazz bebop de Charlie Parker.

Lançado em 2019, a obra surpreende pelo ineditismo de criar um disco em que o ouvinte escolhe o caminho que vai percorrer formando frases aleatórias, absurdas ou não a partir dos títulos de suas mais de 50 músicas, as quais muitas vezes se resume a um monossílabo. As músicas se alternam entre murros no estômago instrumentais de curta duração (“Não” quebra o recorde de “You Suffer” do Napalm Death com seus dois segundos de duração) e canções (isso mesmo, canções) brutalmente minimalistas, muitas compostas às escuras por artistas que não necessariamente militam na cena underground da música pesada como Lirinha, China e Kiko Dinucci, arrancando o Test daquele nicho da música extrema noisecore e colocando-o, assim como Ratos e Sepultura, no contexto da famosa e inexistente linha evolutiva da música popular brasileira, “Por que nãão?! Por que nãoooo???!” (“Alegria, alegria”, Caetano). Muitas das letras refletem de forma estranhamente poética – para um disco de grind que geralmente alterna-se entre o tom político panfletário e o gore horror – os tempos sombrios em que vivemos.

A violência concreta de O Jogo Humano, assim como sua bateria absurda, parece sair de alguma caverna mitológica de sonhos platônicos de um adolescente de 15 anos como uma advertência direta para os ouvidos moucos da decrépita indústria pop brazuca que insiste em requentar restolhos do BRock e emular o mercado gringo de R&B: um grito de revolta em forma e conteúdo contra a chatice reinante de um mercado que cada vez mais sectariza o que pode ou não ser ouvido, confundindo, como na alegoria grega, a verdade com as suas sombras. Trata-se de uma burrice histórica que as músicas desse disco não cheguem a difusão radiofônica que merecem. Por experiência própria, sabemos que o Test transita confortavelmente seja tocando no Bar do Reggae, espaço underground no Recife Antigo, seja em um festival como o Abril pro Rock (tanto no palco principal quanto no estacionamento), inclusive já tendo feito uma turnê Brasil afora tocando em uma Kombi. Porém sua música transgressora e inovadora merece a difusão por veículos bem maiores do que a parte que atualmente lhe cabe nesse latifúndio midiático, pois “We Want the Airwaves!!” (“Nós queremos as ondas sonoras!”), como cantavam os Ramones.

Nós, ouvintes, exigimos!

>>Pra sacar mais, clique no amarelinho:

Miles Davis | The Stooges | Herbie Hancock | Quincy Jones  | Throbbing Gristle | Naked City | Painkiller | Mike Patton | Brigada do Ódio | Sarcófago | Ratos de Porão | Sepultura | Charlie Parker | Napalm Death | Caetano Veloso | Ramones |

 

>FICHA TÉCNICA:

Test é: JKombi – Guitarra/Vocal, Barata – Bateria.
Todas as músicas por Test, exceto “10-Né”, feita por Kiko Dinucci através de uma bateria de Barata.

Produção: Test.
Gravação e Mixagem: JKombi (Estúdio “Cheiro de Banana Podre”, São Paulo – BR).
Masterização: Brad Boatright (Estúdio Audio Siege, Portland – EUA).

Ediçao/Corte: Bernardo Pacheco (Fábrica de Sonhos, São Paulo – BR).
Efeitos Adicionais em “26-Com”, “29-Fica”, “43-Fogo”, “45-Tudo”: Bernardo Pacheco.
Efeitos Adicionais em “3-Entendeu”, “6-Confidencial”, “23-Imagem”, “26-Com”, “29-Fica”: Dovglas Leal.

Foto promo: Chris Justtino.

EDITORIAL (agosto de 2020).

Somos uma equipe de Recife-PE que gosta tanto de música que, pra gente, só ouvir não basta. Há pouco debate (na mídia mainstream) que fuja do “gosto/não gosto”, falta paixão e, principalmente, falta botar as coisas num sentido estético que também seja ético. O que se tem é um mundo de informações, de releases disfarçados de crítica, e muito pouca autocrítica. Se a gente vai mesmo contribuir pra mudar essa mesmice, isso é outra história, admitimos a pretensão da coisa toda, mas é triste ver o público sendo empurrado a comer feno onde se colocam adesivos com dizeres coloridos como “nova onda electropop pós-grime megazord topzera” com um desses barbudos pintados em certas barbearias dando ok com a mão e dizendo “é verdade, eu comi e dou fé!”.

Nessa remada contra a maré, trabalharemos com o formato de séries temáticas formadas por quatro blocos atualizados semanalmente, cada um contendo vários pontos de vista sobre um mesmo assunto, sejam eles discos/faixas/autores/oqueseja.

Na nossa condição de meia-idade avançando serelepe pra inteira, nos lançamos ao desafio de começar falando de coisas lançadas nos últimos dez anos, MAS não visando a virar os reis da novidade que a plebe só vai conhecer quando apontarmos, e lembrando que novidade e frescor musical não são exclusividade do que saiu na última semana. E, se as coisas de que vamos falar nessa primeira série são relativamente recentes, a ideia é priorizar aquilo a que se tem dado pouca atenção. Algumas fazem parte de cenas movimentadas mas que não saem do nicho. E podemos até falar do mainstream, mas desaguando nele pelos meandros de quem se envereda pela música buscando fugir de algoritmos viciados. Queremos sair do lugar-comum anglicista, mesmo que seja praticamente impossível não falar do que se faz nos EUA, na Grã-Bretanha e no resto da Europa ocidental nortista.

Bem, mais que falar e falar aqui, nesse Editorial, aconselhamos que deem uma lida nos nossos textos. São curtos. E nos deem feedback do que acharam.

E força na peruca!

AFRIQUA, Colored [GBR / GER / EUA / BEL, 2019].

[Pra ouvir, clique aqui.]

 

Afriqua, entre a EDM e a IDM. Quando uma letra faz toda diferença.
George SóSucesso Yeah!

Sabe quando você está caminhando pela rua e escuta uma melodia familiar que lhe desperta uma lembrança, mas você não sabe muito bem localizar no espaço-tempo, não consegue identificar de onde exatamente conhece aquele acorde de guitarra, timbre de piano ou assobio? E de repente, um turbilhão de reminiscências invade sua mente e torna vivo, refresca algo que parecia já apagado mas que apenas estava  escondido em seu subconsciente. Colored, do DJ e produtor estadunidense Afriqua, lançado em outubro de 2019, pelo selo especializado em música eletrônica Resident Advisor é um disco que traz exatamente essa sensação de revelação a partir de fragmentos da memória. Um quebra-cabeças sonoro pra você montar e dançar. Colored, antes de tudo, abre um diálogo profundo e respeitoso com a memória da música eletrônica afro-americana do fim de século XX, e pretende ser, segundo palavras de seu compositor,  “uma celebração do poder unificador da cultura negra pelo prisma da música eletrônica”. Trata-se de uma homenagem à diversidade da música eletrônica em suas origens experimentais e uma advertência sobre a necessidade de se manter essa memória viva. Além do título que destaca essa intencionalidade, e da capa que reúne referências a diversas festas, rádios e artistas desse universo underground eletrônico, Colored faz questão de nos lembrar que a música eletrônica como entendemos hoje é fruto  do trabalho radical de  artistas negros que tiveram a coragem e a necessidade de experimentar com as novas tecnologias, se posicionar contra a indústria do entretenimento criando seu próprio modo de produção e divulgação e no caminho ainda definir as bases da house music. Artistas como Larry Levan, Larry Heard, Marshall Jefferson e Adonis aliados a MCs pioneiros do hip-hop como Grandmaster Caz (do Cold Crush Brothers), Grand Wizard Theodore e seus Fantastic Five, e Grandmaster Flash (do Grandmaster Flash & the Furious Five) moldaram um estilo de mixagem que se perpetuou como estado de arte na produção  onipresente  de Timbaland nos anos 2000. Mas isso seria assunto pra outra resenha.

Em Colored, Afriqua navega pela tradição da música negra eletrônica, desde os seus primórdios do eletrofunk do Quincy Jones de Thriller – de Michael Jackson -, George Clinton de Computer Games e do Herbie Hancock de Rock it, passando pelos já citados mestres da house music até desaguar no multiverso do techno-house e seus incontáveis estilos. Suas dezesseis faixas se alternam entre o houses EDM, IDM experimental, minimal e interlúdios jazzísticos em faixas construídas com um cuidado artesanal traduzido pelo intervalo de quase dois anos de produção do disco. Entre as faixas dançantes, se destacam “Space Dookie”, um p-funk eletrohouse, que sampleia “Knee deep” do Funkadelic para dissolvê-la em batidas que nos remetem a Thriler. Já no hip-hop “Go Tell It”, Afriqua coloca seu maquinário para  dialogar com o rapper Salomon Faye numa homenagem à arte de ser DJ (Djing). “Dope” brinca um pouco com o krautrock de bandas como Cluster, enquanto sampleia um poema homônimo de Amari Baraka, um dos maiores poetas afro-americanos do último século. Já “Jumpteenth” alia batidas do acidhouse do 808 State com o jazz radiofônico dos 80 a lá Miles Davis. “Upstream” é um space-house-afrofuturista (estamos abertos à discussão), com vocais da artista afro-pop belga Zap Mama. Já “Burn” é uma dance music no wave que parece ter saído direto das mãos de Arthur Russel e de seu Dinossaur L.

Colored, porém, não é um disco feito apenas para as pistas, pois intercala lado a lado com suas batidas EDM (em inglês: “música eletrônica dançante”), verdadeiras  abstrações experimentais IDM (em inglês: “música dançante inteligente”), dignas de um Antipop Consortium como “Shout”, “Turner”, “Sociodelic” e, ainda, “Native Sun”, um encontro entre o Chicago house de Mr. Larry “Fingers” Heard e  Boys Noize,  Já as  faixas “Whatever Means”,  “Birdlandia”, “Zenith” e “Noir” funcionam como interlúdios quebrando com  a unidade puramente eletrônica do disco ressaltando o seu caráter experimental. Nesse sentido, o disco desenvolve um conceito análogo aos discos inovadores do hip-hop do início dos anos 90, mais especificamente, 3 Feet High and Rising do De La Soul e Smokers Delight do DJ Nightmares on Wax, com seus interlúdios e faixas incidentais.

Assim como sua capa, uma colagem de diversos temas ligados à cultura eletrônica feita pelo artista Eric Mack, Colored impressiona pela gama de nuances e detalhes que compõem um todo abstrato a partir de seu pontilhismo sonoro. No entanto, o disco acaba por se tornar refém de suas própria qualidades pois ao não se definir entre ritmo e experimento, sucumbe à ambiguidade de sua fórmula abrindo margem para  interpretações que podem levar mais em conta o discurso do que sua forma. Se por um lado Afriqua pode se perder no labirinto de referências que se impõe a entrelaçar em seus mosaicos sonoros, por outro desenrola um fio que nos guia pela complexidade do que é viver e criar em tempos caóticos de alienação tecnológica sem perder no entanto como base a tradição e as origens da música eletrônica, tornando o disco uma  declaração de amor ao passado enquanto um presente à música do futuro.

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Larry Heard | Larry Levan | Marshall Jefferson | Adonis | Cold Crush Brothers | Grand Wizard Theodore | Grandmaster Flash | Michael Jackson | George Clinton | Herbie Hancock | Funkadelic | Cluster | Amari Baraka | 808 State | Miles Davis | Arthur Russell | Antipop Consortium | Boys Noize | De La Soul | Nightmares on Wax |

 

Colored: um arco-íris musical (mas não se excite).
Aroldo SóSucesso!

Dei uma olhada em uma resenha sobre Colored, novo álbum de Afriqua (projeto de Adam Longman Parker, norte-americano residindo na Alemanha), extremamente elogiosa e concordei com a maioria dos adjetivos, menos com as conclusões. Sim, o álbum é colorido, diverso, fluido e imprevisível, mas essas qualidades pra mim não bastam, o que me lembra a máxima de que se pode mentir só falando a verdade.

Adam vem de mais de um mundo: ele tem formação clássica mas rompeu com seus estudos acadêmicos na mesma época em que começou a produzir música eletrônica baseada em loops e feita para as pistas. Colored parece ser um esforço em juntar esses mundos usando a estrutura do techno/house para criar texturas adensadas por uma profusão de fontes, de instrumentos acústicos e cantos a samples de falas e glitches.

O maior problema de Colored é a falta de uma direção ou ao menos de centelhas criativas que deem personalidade aos sons que Adam cria e organiza em séries e sobreposições. Adam é um acumulador de referências e fica óbvio que esse trabalho é uma tentativa de ruptura com a auto-indulgência comum na música eletrônica feita para as pistas, mas o resultado é quase sempre anódino e beira o easy listening. Algumas faixas, como “Upstream”, ainda ameaçam se desenvolver para algo interessante, mas o interesse morre tão logo se percebe que elas dependem de passagens isoladas que não dão liga. Adam parece ser mais um curador dentro do seu próprio trabalho. Colored talvez seja formalmente novo, mas não inova, não aponta para um lugar que pareça interessante de continuar trilhando.

Admito que tudo tem muito apuro técnico e foi bem planejado. O “qua” de Afriqua parece remeter à “aqua”, “água”, o que seria uma referência ao modo fluido como a música evolui, mesmo que essa evolução pareça se dar em círculos. O colorido do título está também na arte da capa e na diversidade dentro e entre as faixas, cheias de passagens sonoras jogadas sobre, sob, do lado, na frente e atrás umas das outras, tentando convencer através da massa de referências mas obtendo apenas saturação.

Esta é uma crítica pretensiosa, daquelas que pretendem escarafunchar a intenção do artista e, portanto, também é fácil de virar teto de vidro. Talvez eu não tenha entendido a proposta e alguém mais esperto que eu esteja sorvendo esse álbum e sentindo e descobrindo coisas cuja chave eu não tenho. Pode ser, sério. Mas essa chave certamente não é a de que Colored é abstrato, qualidade que alguns críticos têm atribuído ao álbum. E eu não digo isso porque, segundo algumas partes em um debate histórico que remonta há pelo menos três séculos, toda música seja abstrata. Eu entendo que tipo de abstracionismo está sendo alardeado aqui, mas este álbum é feito de outra coisa: colagens. Colored é um mosaico que, ao ser visto de longe, revela-se apenas como mais uma peça de mosaico gigantesca mas tão cheia de cores arrumadas de modo aleatório que ela mesma não tem mais serventia, um caso de todo menor que suas partes.

Quando eu ouvi as faixas pela primeira vez, gostei, mas fui deixando de gostar conforme ouvia mais vezes; cada faixa, em vez de revelar novas camadas, mostrava que já tinha se esgotado nas primeiras audições. Cada momento imprevisível de Colored se parece com um susto apelativo de filme de terror barato, que te pega de surpresa, te deixa irritado, não torna o filme melhor e não volta a assustar.

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Música abstrata |

 

Nota de 3 dá pra comprar picolé?
Mateus SóSucesso!

Estou num impasse. Sou um tiozão do rock, do pavê, mas o que há de melhor hoje faz kring-krang, é gerado com badulaque digital.

Fiquei sob a responsabilidade de tratar de Colored, de Afriqua, codinome do estadunidense Adam Longman Parker, me impactei no início, vi a capa que era um tudo, um disco que ia pra lá e pra cá nas referências da dance music, uma hora é house, um monte de techno, outra pegava umas caronas no abstrato da IDM, colocava aquele canto de diva house no techno, depois dava um olá no hip-hop, e por aí se dana. Como diria um brother, esse disco é muito assunto. Aliás, a capa é isso, parece uma versão colorida desses quadrinhos abstratos doidões que Fábio Zimbres, brasileiro, têm produzido. Só que sem personagens, só caleidoscópio mosaico tech cheio de cor. Enfim, muito assunto. Tudo é muito assunto.

Só que aí foi não foi, fiquei achando que o figura tava que só quer ser. Disse que curte Quincy Jones, o cara que ficou pra sempre famoso como o produtor de Thriller de Michael Jackson, e outros que fui sacar devido ao Colored, como Roy Ayers e Weldon Irvine, gratas novidades. E depois de ir nas referências, me passou pela cabeça o quanto a AOR, aquela muzak da década de 80, aquele som de rádio com a cara da era Reagan, o quanto a AOR hoje faz um sentido danado. Antes, esse estilo de som me tinha sido reapresentado pela vaporwave, aquele gênero e arte (a vaporwave) capturados atualmente pela extrema-direita e fáceis bem fáceis de se encontrar pela internet – até o MBL já usou. Nesse fluxo de hoje, redescobri o prazer de ouvir adult contemporary, smooth jazz etc, sons tudo embalados nesse mesmo nome, AOR, o som por excelência de Ed Motta, aquele cara que exagera nas tintas pra ser conhecido por seu colecionismo, vinhos e queijos, Ed Motta, um estilista do estilo. Enfim, um som aludido por Afriqua – mesmo que no implícito. Foi sampleado em Colored? Não sei, não vi.

De ziguezague em ziguezague, fiquei me perguntando: existe mesmo um frescor nisso tudo, ou seria tudo um grande verniz pra resenha phyna? Tem gente que curte o sujeito, tipo a Exclaim!, revista canadense, deu um mói de estrelas. Etc. Só que Colored tá mais prum envelope bonito com fita verde limão embalando – essas coisas -, um tipo de som feito pra você escutar com calma no amor do seu lar, relaxado após tomar aquela bala no dia anterior naquela festa sintética com estrobo. Colored parece anunciar: “Aqui não, aqui é pra você pensar, vejam o que faço com essa multidão de coisas que curto” das áreas centrais do capitalismo – Europa e EUA.

O disco é bom, dá pra curtir bem curtido. “Upstream” e “Shout” dialogam com coisas como Max Cooper, “Space Dookie” com a house muderna que, mesmo já gostando, eu por ser velho tou conhecendo os nomes aos poucos, dançar bem dançado ela e, no flow, ir bater cabeça e fazer Yo! com “Go Tell It”. Mas nada que faça você suar. O que irrita é que parece que esse cidadão quer mostrar pra você que é pra você pensar porque você é jovem muderno ligado totalmente plugado, tipo você como um tipinho.

Tudo só me dá a noção que preciso fazer melhor o dever de casa. No Brasil, tivemos por exemplo uma revista de dance music eletrônica que morreu na praia, a Beatz, e Camilo Rocha foi um dos poucos críticos que trabalhou por décadas com o gênero na mídia. Muita falha, sou o Brasil, falo porcamente inglês. Nem falo, na real.

Repito, o disco é bom. Muito bom. Bem inglês, talvez até berlinense (pelo que parece, ele tá por lá), daí aos poucos vou sacando esse agito. Demonstra esforço e vontade de avanço. Mas é muita vontade e pouca vibração, tudo muito pensado pra você “pensar”. Daí, o que sobra é a nota de R$3,00.

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Fábio Zimbres | Quincy Jones | Roy Ayers | Weldon Irvine | Ed Motta | Max Cooper |

 

>FICHA TÉCNICA

Todas as faixas escritas por Adam Longman Parker, com textos adicionais em “Upstream” por Marie Daulne (AKA Zap Mama), Brian Parker e Stephanie Moran, em “Go Tell it” por Salomon Faye e Lane Banning, e em “Space Dookie” por Brian Parker.

Vocais em “Tema”, “Upstream”, e “Space Dookie”: Brian Parker.
Vocal principal em “Upstream”: por Marie Daulne.
Vocais principais em “Go Tell It”: Salomon Faye, e vocais adicionais de Xiolynn.
Baixo em “Tema”, “Upstream”, e “Space Dookie”: Tyler Pope.
Guitarra em “Turner” e “Space Dookie”: Brian Parker.
Sintetizadores adicionais em “Turner”: Olsi Rama.
Todos as outras faixas executadas por Adam Longman Parker.

Design: Thorbjørn Gudnason.
Arte da capa: por Eric Mack.

Produção: Adam Longman Parker (estúdio Octagon / Londres, estúdio Saal 3 / Berlim, Moon Studios / Nova York, e ICP Studios / Bruxelas).
Mixagem: Antonio Pulli (Saal 3, Berlim).
Masterização: Matt Colton (Metropolis Mastering, Londres).

“Zenith” e “Noir” gravados por Antonio Pulli (estúdio Saal 3, Berlim).
“Go Tell It” gravado por Lane Banning (Moon Studios, Nova York).
“Upstream” gravado por Jules Fradet (ICP Studios, Bruxelas).
“Dope”, “Upstream”, “Native Sun” e “Space Dookie” gravados por Olsi Rama (estúdio Octagon, Londres).