TWICE, Eyes Wide Open [KOR, 2020].

[PRA OUVIR, CLIQUE AQUI.]

 

Atenção: abaixo segue três textos diferentes escritos cada um por um autor diferente.

TWICE – Música para acelerar seu desenvolvimento de diabetes tipo 2.
Sr. Araújo SóSucesso!

No videoclipe de “Alcohol-Free”, as nove vocalistas do TWICE assumem o papel de alguém que não precisa de álcool porque o olhar da pessoa amada basta para embriagá-las, algo como uma canção romântica antidrogas. “Alcohol-Free” não está em Eyes Wide Open, mas foi lançada em 2021, o que a torna parte da fase promovida como madura do grupo. Quem sou eu para negar? As integrantes eram adolescentes quando começaram em 2015-16, e agora são mulheres na faixa dos 20-25, faz sentido, além de que grupos de laboratório precisam de uma narrativa. Ao contrário do Menudo, o TWICE não substitui suas integrantes quando elas alcançam certa idade. Pelo menos ainda não. O que me deixa curioso, porque ou elas foram programadas para viver menos de 30 anos, tipo androide de Blade Runner, ou elas serão mais cedo ou mais tarde submetidas ao tratamento Logan’s Run de morte compulsória. Ou ainda, começarão a cantar sobre boletos.

Por enquanto, porém, TWICE é a juventude não como meio, mas como fim, muito como toda a música pop, é verdade, só que aqui todos os signos de pertencer a uma “casta etária”, por assim dizer, são alardeados com o volume de uma buzina.

Mas quem são as TWICE? Bem, elas foram recrutadas por uma corporação responsável por um desses programas de TV em que as “melhores” vozes ganham, ou seja, as vozes que agradam à maioria, o que significa, em última instância, as vozes mais medíocres. O agradável, o morno, o imediato, o simpático. Não há vocais guturais aqui, a audácia! Mas elas amadureceram, gritam os fãs! Os 5 anos que cada uma passou desde os primórdios (rs) até agora multiplicados pelo número de integrantes dá algo próximo à minha idade e eu levo minha matemática muito a sério. Se antes elas faziam música cute (“fofa” em inglês, um conceito que atravessa muito da cultura pop japonesa e que se alastrou para o k-pop), agora elas botam R&B e hip-hop na parada. Botam um monte de coisas, até technopop. No videoclipe de “Alcohol-Free”, notei que elas também estão fazendo danças mais sexy. Mas moderadamente mais sexy. A música mesma me lembrou algo que eu não sabia definir e, quando fui pesquisar, descobri que os estilos que a influenciam, de acordo com alguém que solta os releases ou o fã-clube (desculpe, fandom), são hip-hop em gotas e algo de bossa-nova, o que é perfeito, porque a bossa-nova é a coisa mais moderada que existe.

Talvez seja mais interessante analisar a coisa toda mais pela perspectiva dos fãs do que pela música, que é uma importação do que o pop estadunidense vem fazendo na última década e regurgitada para o resto do mundo, inclusive sendo consumida nos EUA. Para fazer o tempo passar mais rápido enquanto ouvia Eyes Wide Open, comecei a ler a seção de comentários do Youtube. Em termos de visualizações, tem-se pouco comparado ao de uma Billie Eilish, por exemplo, mas os comentários são muitos e ajudam a entender o que acontece. Existe um léxico particular (todo em inglês), quase todos os comentários são também em inglês e bem escritos e articulados e geralmente bobos, e não há discórdias. A impressão é que a maior parte dos fãs (ou devo dizer fans?) é de nativos de países de língua inglesa da faixa etária do próprio grupo, mas isso é só conjectura. O que não é conjectura é que tempos novos trazem novas linguagens e comportamentos, ainda que sejam, no bojo, novidades cosméticas nesse mundo cosmético de artistas mantidos por corporações. Bops, que tanto li nos comentários, seriam, segundo investiguei, músicas agradáveis feitas para dançar e que não possuem quaisquer traços de melancolia, raiva ou angústia. A definição não era bem essa, mas o subtexto é. Algo muito curioso é que adorar um álbum com 13 músicas não te faz um fã, porque fã aqui é alguém que se devota ao grupo. Pelo menos foi isso que captei de uma thread iniciada por alguém que disse adorar o álbum mas não ser fã, ao que foi polidamente, carinhosamente respondido por várias pessoas que disseram que o que importa é o amor ou ter saúde, não lembro. Mas é tudo tão fofo, todos são tão polidos. Todos, dos não-fãs que adoram o álbum, aos ONCEs, os FÃS da banda. Sim, um fã da banda se chama ONCE (com maiúsculas, porque sim), o que significa “UMA VEZ”, e, mais do que adorar, os fãs de TWICE (que significa “duas vezes”, entendeu agora?) provavelmente COMPRAM (WTF?) TWICE. Só pode. Inclusive, nos comentários, maior galera dizendo “gente, não deixem de comprar o álbum, hein?”. Sério. Eu fiquei chocado. Os últimos albums (como gostam de falar os fãs de k-pop, mas aí eles se parecem comigo, porque eu uso o termo em português – “álbum” – quando me refiro à mesma coisa) que eu comprei foram do Nick Cave numa promoção da Aky Discos de 1999.

Um outro comentário também me deixou curioso: uma mulher jovem dizia que sempre havia assumido uma postura masculinizada por pressões externas, mas que TWICE a havia feito superar isso. Bom pra ela, mas a ideia de feminilidade que as TWICE representam me parece muito calcada no fenômeno do cute, do fofo, e, apesar de não ver mal na fofura (que permeia, inclusive, boa arte da música a que se chama indie), aqui o estereótipo prevalece e o resultado é infantilizado. Não é a mesma coisa, pra ficar num exemplo culturalmente próximo ao caldeirão que fez nascer o k-pop, que o movimento shibuya-kei, a que uma banda bastante interessante como o Pizzicato Five é costumeiramente associada. Entre a fofura de TWICE e a personagem/marca Hello Kitty, fico com a última, que se admite completamente infantil (ou com Stereo Total, uma dupla ultra-kitsch – ou camp, como queiram –, mas com aquele piscar de olhos que faz toda a diferença).

Conclusão: sou um NEVER.

videoclipe de “Alcohol-Free” – https://www.youtube.com/watch?v=XA2YEHn-A8Q&vl=en

fase promovida como madura – https://revistakoreain.com.br/2021/04/a-evolucao-de-estilo-do-twice-do-colegial-ao-auge-da-sofisticacao/

Menudo – http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI29647-15566,00-MENUDO+LANCA+O+FENOMENO+DAS+BOYS+BANDS+E+O+CANTOR+RICKY+MARTIN.html

Blade Runner – https://www.youtube.com/watch?v=6bAqf04Ox9M&ab_channel=LerAntesdeMorrer

tratamento Logan’s Run – https://pt.wikipedia.org/wiki/Logan%27s_Run

elas foram recrutadas por uma corporação – https://pt.wikipedia.org/wiki/JYP_Entertainment

minha idade – https://drricardoteixeira.com.br/lordose-lombar/

um conceito que atravessa muito da cultura pop japonesa – https://tab.uol.com.br/faq/cultura-kawaii.htm

technopop – https://www.youtube.com/watch?v=wB-bGvyciKY&ab_channel=ITALODISCO%2FEURODANCE%2F80sPOPDANCEbySP

fandom – https://pt.wikipedia.org/wiki/Fandom

seção de comentários do Youtube – https://www.youtube.com/watch?v=wQ_POfToaVY&ab_channel=TWICEJAPANOFFICIALYouTubeChannel

Billie Eilish – https://www.youtube.com/watch?v=DyDfgMOUjCI&ab_channel=BillieEilishVEVO

Nick Cave – https://www.youtube.com/watch?v=ReUUrne8ykQ&ab_channel=NickCave%26TheBadSeeds-Topic

Aky Discos – https://everaldofarias.blogspot.com/2011/01/loja-de-discos.html

shibuya-kei – https://www.sabra.org.br/site/shibuya-kei/

Pizzicato Five – https://www.youtube.com/watch?v=B1k6J6U-RTo&ab_channel=BrunoQuint

Stereo Total – https://www.youtube.com/watch?v=sCiZUvjSReg&ab_channel=MonsieurLunatique

>>Pra sacar mais, clique no amarelinho:

| | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | || | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | || | | | | | | | |

 

TWICE é uma lâmina nos ouvidos desse tiozão punkeka.
Mateus SóSucesso!

Eu, tiozão, conversando com a jovem Iarinha, com seus 6 anos de idade, perguntei: “Ei, tu gosta de BTS?” – pra quem não saca, BTS é a banda de k-pop com maior sucesso da história, chegando a influenciar no PIB da Coreia do Sul(?!). Na mesma hora, Iara, moradora de um região meio periférica da Zona Oeste de Recife, uma fofa, entronchou a cara e disse: “Nããão, eu gosto é de brega-funk”.

Depois disso, fiquei me perguntando se poderia tirar disso alguma lição. Fiquei me perguntando se isso teria algum paralelo de quando eu, um deslocado de escola privada da década de 80, no Ginásio, percebia uma divisão de gosto + lifestyle entre os estudantes que dançavam lambada ou faziam rodinhas de mauricinhos e cocotas tocando Legião Urbana versus alguns parecidos comigo na fruição, do metal e punk, inclusive com bandas nessa vibe. Fiquei me perguntando fortemente se BTS não seria a lambada do Fundamental em escolas de classe média, enquanto o brega-funk rege as escolas públicas, questão de classe. Serasse faz sentido isso? Não sei, faz tempo que não tenho 6 anos.

Mas é impressionante como o espírito do tempo mudou da água pro vinho. Hoje, preceitos contraculturais os quais o punk levou ao paroxismo, não fazem mais o menor sentido. O menor do menor. Se antes fazia-se um certo voto de pobreza e se negava o comercialismo de se vender “pro sistema” (o Nirvana foi a última grande banda a levar isso em consideração, contraditoriamente, como banda mainstream que foi, mas levou), hoje parece (reforço: parece) que o lance é ter um mega contrato, centenas de milhares de views, cara rebocada na maquiagem, glamour, vida das Kardashians etc. Em resumo: seria contracultural fazer a linha Kanye West nessa nova ordem 5G? Ter uma vida bling bling balançando cordão de ouro jogando dólares enquanto anda de porsche na rua seria contestatório nos termos de hoje? Capitalismo virou o máximo do horizonte? Moderno é ser careta [falou aqui o hippie-punk-rajneesh]?

Olha, aqui é o fim do mundo (Neto, Torquato), riqueza por si só já é pra poucos, que dirá no Brasil, a iniciativa privada é latifundiária, e Casa Grande & Senzala é o DNA de tudo em Pernambuco, ou seja, ser de esquerda, no sentido clássico, aqui ainda faz sentido, aqui, quintal do Império. Tanto é assim, que se de um lado a gente vê o fascismo pegando parte do povo, vê também uma gurizada se afirmando à extrema-esquerda. Contudo, a gente não pode se esquecer que o Brasil imita as pantomimas dos EUA, e que as as majors pararam de investir na música brasileira. As gravadoras tinham uma pá de olheiros e o escambau, hoje isso não existe mais, é artefato de museu. Agora é tudo por algoritmo, e a porra dos algoritmos de todas as plataformas empurram sempre pra algum entulho norte-americano – e no máximo europeu. O que é até óbvio que aconteça, já que essas traquitanas (Spotify, YouTube etc) são todas de países centrais (no capitalismo).

Em suma, falando do que esse texto se propôs a falar, TWICE é a epítome disso tudo. Tem toda fuça de música ianque, todos os cacoetes dos enlatados estadunidenses de todos os tempos, desde, sei lá, Backstreet Boys e quetais, tudo turbinado com o som moderno da música negra dos EUA. Mas tem um lance na coisa toda que me faz achar que tou ouvindo robôs. O som é ultra-pasteurizado, só efeitos de estúdio, e sem a menor ginga e malícia, a menor. Aliás, é exatamente isso o que pede a cultura das boy/girlbands sul-coreanas, recato ao extremo, com pitadas de sexy appeal com jeito de fedelhe (ér… pedofilia?), além de valores como humildade, dedicação etc. Não por acaso, essas bandas atingem um amplo público infanto-juvenil no mundo ocidental, com vendas e views recordes, uma loucura. É um som platinado, cristalino, parece uma faca no ouvido, com jeito de futuro kitsch, de qualquer lugar – se não soubesse que esse som tinha sido feito na Ásia, acharia facinho facinho que era daqui do Ocidente. Dá uma certa agonia de tão limpa que a coisa toda é. Limpíssima. Parece que tou vendo a inauguração de uma nova ala de shopping. Ou de um aeroporto, sabe como é?

Seara íngreme, confesso que foi osso de ouvir, mas é esse o papel do audiófilo, abrir-se minimamente e ouvir o que não é hábito pra tornar conversa depois. Fui jogado no mundo das adolescentes com acesso fácil à internet e gadgets tecnológicos, realidade de poucas – a gente vê rápido esse fato estando em escola pública durante essa pandemia do caralho, alunes só com celular, computador necas. Um programa de música pra streaming chamado “Escuta”, que eu acompanhava e não existe mais, romantizou num episódio o fenômeno do k-pop, tratando-o como um produto cultural digno de nota. Tá, o que não é passível de ser complexificado, José? Tudo, né? Mas, pqp, falar do fenômeno do k-pop sem falar da hiper-exploração de adolescentes, situações aviltantes, praticamente trabalho escravo, que já levou não de graça a casos de suicídio, unido a um machismo troglodita, e tudo isso sem citar o capetalismo, papo-reto?: é velhacaria.

Tudo bem, ainda tem o lado da fruição, do consumo e da tradução do ouvinte – da ouvinte, no caso. Daí, nesse parágrafo, voltamos ao começo. “O k-pop cumpre a mesma função pras meninas que o futebol tem pros meninos”, como mais ou menos declara o episódio supracitado do “Escuta”. Tá ok, nem tudo é só problema e treva dentro desse universo – vide o protesto virtual da comunidade k-pop contra a direita colombiana que rolou há tempo pouco. Tudo bem. Porém, me perguntava o que aconteceu pra que se mudasse tão drasticamente os gostos nesse zeitgeist anti-punk de agora. E talvez a resposta esteja exatamente nos esforços coordenados dessa indústria mundializada com perspectiva estratégica de domínio, como nos EUA, no Estado sul-coreano etc, retirando qualquer vestígio de esquerda que a contracultura hegemonicamente teria deixado. Os tempos são outros. Sobrevivendo, seguimos.

Pois é, falei pouco da TWICE. Foi de propósito.

Avante, MST!

>>Pra sacar mais, clique no amarelinho:

| | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | || | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | || | | | | | | | |

 

TWICE: Este é o caminho, pode entrar!
Augusto SóSucesso!

O Ocidente é um poço de contradições. Condenamos qualquer sinal de planificação de mercado como uma forma de ditadura “entre aspas”, falamos de liberdade, livre iniciativa, concorrência, mas adoramos celebrar a eficiência de uma cultura na qual as crianças são treinadas feito cavalos de corridas apenas para serem abatidas à tiros após a linha de chegada, sem a menor condescendência. Isso é k-pop: uma mistura de J.G. Ballard com os piores pesadelos de Jello Biafra, no qual independência e autonomia são vistos como crimes de alta traição. Um double-tap* cultural em que drogas, jogatina, agiotagem, cyberbullying e suicídio, entre outras tecnologias de destruição em massa não fazem parte do roteiro mas acabam por se tornar rotina. Se você não mata a criatividade pela pasteurização e padronização do produto, acaba por matar o mensageiro pelas exigências colocadas no caminho para o sucesso.

A banda que vamos analisar hoje, TWICE, formada por Momo, Jihyo, Sana, Dahyun, Chaeyoung, Jeongyeon, Mina, Nayeon e Tzuyu, foi criada em laboratório, no caso o programa Sixteen, idealizado pelo dono da JYPE, e da própria banda, J. Y. Park.

Uma busca em sites especializados em k-pop (leia-se: de fofocas) traz a verdade estarrecedora sobre o gênero, de pelo menos 30 suicídios. Para se ter uma ideia, o heavy metal quase foi banido da face da terra, acusado de satanismo nos anos 80, por um total de 2 ou 3 suicídios falsamente atribuídos à influência de uma música de Ozzy: “Suicidal Solution”.

Por outro lado, o k-pop é um dos piores pesadelos para aqueles que, como Jello Biafra e Ian MacKaye, um dia acreditaram que a música poderia se libertar da mão invisível do mercado e das grandes gravadoras. Assim como para os artistas do techno/garage que apostaram na destruição do ego “artístico” e na diluição da ditadura do autor pela força do “estilo”: uma assinatura que reconhecesse o som e não o seu dono, inventor, gravadora.

No k-pop, a liberdade criativa de seus integrantes é apenas um detalhe sufocado pelo império de exigências e padrões que sua “empresa” determina e que os fãs homologam. O k-pop funciona como uma linha de montagem de um desses gigantes tecnológicos (a maioria dos idols e dos grupos mantém contratos de exclusividade com esses gigantes como por exemplo o Black Pink e Samsung). A coisa é tão ultra marketizada que uma banda que sequer tem nome e integrantes definidos já vendeu 40 mil cópias de um disco que sequer foi gravado, eu disse gra-va-do. Qualquer semelhança com a bolsa de mercado futuro não é mera coincidência.

Isso faz do k-pop uma industria de bilhões de dólares que a cada lançamento levanta uma legião de seguidores com marcas como 100 milhões de visualizações em menos de 24 horas. Tal poder transforma o k-pop em uma espécie de commodity cultural que para existir precisa ter sua cadeia de produção rigorosamente controlada como o aço ou petróleo. O k-pop lida com números de vendagem e monetização com a eficiência de um grande banco com suas tarifas ou: cada centavo importa, cada like conta. Não à toa que artistas como Elton John e Dua Lipa já começam a apostar suas fichas nesse mercado.

Mas nada disso diz respeito à música e ao álbum Eyes Wide Open do TWICE – se fizermos um exercício de formalismo e abstrairmos os criadores das criaturas. O álbum é no todo muito bom. A qualidade técnica das bases e beats chega a intrigar se não foi algum desses DJ’s super famosos fazendo um freela no anonimato (e foi, como pode ser visto nesse link). O negócio é classe A. Nesse sentido o álbum, é um resumo e um dos melhores retratos da cultura popper. Suas 18 músicas trazem a diversidade de ritmos e coreografias esperada pelos fãs (no k-pop a dança importa tanto ou mais que a música por uma questão de tradição da cultura pop oriental, não pela influência das boy/girl bands apenas), e em muitas delas nota-se uma característica diferencial de outras bandas: um diálogo estético musical com o synth pop dos anos 80. É um disco de esforço e amadurecimento de uma banda que foi criada a partir de um programa de auditório, em uma tentativa de emancipação criativa dos tentáculos da JYP, sua empresa / gravadora. Para começar seis de suas 13 músicas foram compostas por suas integrantes: “Up No More” – Jihyo; “Do What We Like” – Sana; “Handle It” – Chaeyoung; “Depend On You” – Nayeon; “Bring It Back” – Dahyun; “Queen” – Dahyun. Destas citadas, pelo menos três são destaques do disco: “Up No More”, “Queen” e “Do What We Like”. Além delas, podemos destacar ainda: “I Can’t Stop Me”, “Believer” e “Say Something”. Essas três foram a que mais despertaram simpatia, talvez pela identificação dos arranjos retrôs, nesse velho admirador da cultura das naftalinas que sou. Há um cheiro de Lincoln Olivetti por todo o disco que se cristaliza nos arranjos intricados de “Queen” e “Believer” com seus tecladinhos gangsta, seus arranjos vocais do melhor R&B da virada dos 80, mas sem perder um caráter de novidade nos beats. “Say Something” vai ainda mais longe e se coloca como herdeira de uma tradição afro-americana radiofônica de fazer inveja a qualquer Ed Motta.

Talvez, para nós, velhos-cringes-passando-vergonha-escrevendo-esse-texto, isso não queira dizer nada, mas para uma geração que mantém em relação ao passado um distanciamento quilométrico, já é o suficiente para nos animarmos a pensar em um futuro hipotético de uma parceria entre por exemplo a Alternative Tentacles de Biafra e o BTS. Uma distopia em que o mercado da música se voltasse às suas raízes para entendê-la como fonte de inspiração e não meramente de dólares.

*Double-tap – Estratégia militar utilizada para bombardeios, principalmente na Síria, com o objetivo de maximizar o número de vítimas, visando atingir serviços de resgate, incluindo profissionais médicos, e, como tal, constitui uma violação do Direito Internacional Humanitário. Essa é uma prática por meio da qual agentes de resgate ou instalações médicas respondendo a um ataque inicial se tornam alvo logo que chegam ao local, ou na medida em que os feridos chegam à
instalação de saúde. Esse segundo bombardeio a civis prestando serviços humanitários ocorre, normalmente, entre 20 e 60 minutos depois do início das ofensivas inimigas.

 

j.G. Ballard – https://www.bpp.pr.gov.br/Candido/Pagina/Retrato-de-um-artista-J-G-Ballard

Jello Biafra – https://pt.wikipedia.org/wiki/Jello_Biafra

Programa sixteen- https://pt.wikipedia.org/wiki/Twice

Heavy metal – https://whiplash.net/materias/curiosidades/070046-twistedsister.html

Ian MacKaye: https://www.rockinthehead.com/single-post/ian-mackaye-entrevista-da-rolling-stone-com-o-frontman-do-fugazi-e-minor-threat

Idol – https://portalpopline.com.br/conheca-o-significado-dos-principais-termos-usados-no-universo-do-k-pop/

black pink – https://www.youtube.com/watch?v=ioNng23DkIM

Commodity – https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/commodities.htm

Elthon John x bts: https://www.youtube.com/watch?v=cIxqaLcR3Hs

DUA LIPA: https://www.youtube.com/watch?v=AX3Bsiq-13k

NESSE LINK: https://en.wikipedia.org/wiki/Eyes_Wide_Open_(Twice_album)

CULTURA KPOPPER: https://revistakoreain.com.br/2020/03/manual-do-kpopper-iniciante-expressoes-e-explicacoes/

SYNTH POP 80: https://www.youtube.com/watch?v=RBWanVhPA4g

Lincoln Olivetti: https://www.youtube.com/watch?v=Hqih1P5sJEY

Ed Motta: https://www.youtube.com/watch?v=3rr5d388KPo&list=PLHzbYxCXuwDtkd3R5uLqPhtjomXpV0eOQ

Alternative tentacles: https://alternativetentacles.com/

BTS: https://www.youtube.com/watch?v=CuklIb9d3fI

guerra da síria: https://www.msf.org.br/noticias/siria-hospital-e-alvo-de-bombardeios-em-homs/

>>Pra sacar mais, clique no amarelinho:

| | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | || | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | || | | | | | | | |

 

>FICHA TÉCNICA:

Somax

Autor: Conde.
Composer: Conde.
Music Publisher: R. D.

 

Todas as faixas escritas por Adam Longman Parker, com textos adicionais em “Upstream” por Marie Daulne (AKA Zap Mama), Brian Parker e Stephanie Moran, em “Go Tell it” por Salomon Faye e Lane Banning, e em “Space Dookie” por Brian Parker.

Vocais em “Tema”, “Upstream”, e “Space Dookie”: Brian Parker.
Vocal principal em “Upstream”: por Marie Daulne.
Vocais principais em “Go Tell It”: Salomon Faye, e vocais adicionais de Xiolynn.
Baixo em “Tema”, “Upstream”, e “Space Dookie”: Tyler Pope.
Guitarra em “Turner” e “Space Dookie”: Brian Parker.
Sintetizadores adicionais em “Turner”: Olsi Rama.
Todos as outras faixas executadas por Adam Longman Parker.

Design: Thorbjørn Gudnason.
Arte da capa: por Eric Mack.

Produção: Adam Longman Parker (estúdio Octagon / Londres, estúdio Saal 3 / Berlim, Moon Studios / Nova York, e ICP Studios / Bruxelas).
Mixagem: Antonio Pulli (Saal 3, Berlim).
Masterização: Matt Colton (Metropolis Mastering, Londres).

“Zenith” e “Noir” gravados por Antonio Pulli (estúdio Saal 3, Berlim).
“Go Tell It” gravado por Lane Banning (Moon Studios, Nova York).
“Upstream” gravado por Jules Fradet (ICP Studios, Bruxelas).
“Dope”, “Upstream”, “Native Sun” e “Space Dookie” gravados por Olsi Rama (estúdio Octagon, Londres).

Editorial #4

Toda jornada começa com um passo e o mundo dá voltas e as crianças são o futuro e essas coisas todas, e é por isso que sempre, do nada, quando menos se espera, nossa consciência cósmica coletiva engravida, espera uns textos serem publicados e então pare um novo editorial!

Mas não fiquem vocês que nos leem muito felizes não, porque tudo tem seu negativo e primeiro mandam animais pro espaço e lá eles morrem (tragédia), depois mandam outros mamíferos e eles voltam (farsa?) e agora o trilhardário Jeff Bezos, que nem protozoário é, foi pro espaço e voltou provavelmente mais rico do que antes (tragédia em forma de farsa, definitivamente). A conclusão é que tudo passa e nada fica, talvez. Ou não.

Mas este é um editorial da OnlySuccess! Inc©, recém comprada pela Disney®, e a gente é obrigado citar as grandes máximas da ratazana Mickey, “por isso, vamos nessa que é bom à beça”, “o que importa é participar, amiguinhos” e “o trabalho liberta, iipi iipi urra!”. E agora, quase finalmente ao assunto, só que antes com mais um parágrafo cheio de lipídio:

Apesar do vírus e do tolete falante em Brasília, as pessoas insistem em fazer música e temos um monte de coisinhas novinhas pra resenhar. E outras nem tanto. E também um clássico secreto, essas coisas que a gente inventa pra te enrolar. Só podemos adiantar que é um clássico. Aparentemente. Mas definitivamente secreto pra você, querido leitão.

O restante dos objetos de nossas resenhas foi escolhido por um algoritmo de xadrez que insiste em jogar usando as regras do jogo de damas, o que o torna o pior algoritmo de xadrez do mundo e também o melhor método de escolha de artistas a resenhar.

E o tempo se esvai! Senão vejamos. Outrossim: desta feita, sem mais delongas, um francês que usa um nome alemão pra tocar umas musgas eletrônicas doidas, nosso querido Umwelt! E tem, deixa eu ler aqui, Jamie 3:26!! Ele mesmo!! E, claro, os javaneses do Senyawa, uma dupla que nos mandou um release alegando fazer música pesadona neo-tribal com instrumentos típicos da Indonésia e que lançou seu último álbum através de 44 selos independentes espalhados pelo mundo! Não tem como isso não se transformar numa febre pra finalmente unir todas as tribos!!! Sem trocadilho!!!! Que nem o Nirvana!!!!!!!! Tem algo nessa porra desse café!!!!!!!!!!!

E. FINALMENTE. O. GRUPO. DE. K-POP. TWICE.

POSFÁCIO PÓSTUMO

“A Walt Disney Corporation avisa: Se droga fosse bom, não teria esse nome.”