Abra, Rose [EUA, 2015].

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Atenção: abaixo segue três textos diferentes escritos cada um por um autor diferente.

 

Atirando para vários lados e acertando quase sempre.
Seu Araújo SóSucesso!*

Se na resenha sobre Black Alien, reclamei da desarmonia entre a voz e os samples de linhas instrumentais, esse álbum é o oposto e dá um exemplo de casamento primoroso entre os arranjos e a voz (que é o instrumento principal e que fornece as cores emocionais às canções).

As músicas têm uma textura rica mas sem excessos, o que talvez possa ser parcialmente explicado pela produção feita inteiramente por Abra em um estúdio doméstico. Ela também é a compositora de tudo. Ela é, no linguajar técnico, foda. Certas coisas precisam ser admitidas logo de cara, goste-se ou não de uma obra (e eu gostei dessa, que fique claro), e produzir algo rico com poucos elementos, criar uma cama exuberante escolhendo os sons certos e não simplesmente enfiando uma orquestra digital, isso precisa ser enfatizado. A percussão que às vezes soa como bateria acústica, as linhas de sintetizadores com gosto de passado, os coros feitos por ela mesma através de overdub (que emprestam uma nova camada a “Atoms” e que tomam a função de refrão em “Roses”, que é basicamente o freestyle da virada 80/90 com a pegada própria da artista), todos esses sons são essenciais ao resultado final.

Esse é um disco de detalhes, mas não de cosméticos. Os sons usados, principalmente aqueles cuja sonoridade remonta ao passado, podem parecer inviáveis no papel, mas formam algo coerente, inovador e muito acessível. Quais sejam as influências de Abra, é de se suspeitar que a pouca divulgação do disco tenha mais a ver com o espírito do coletivo Awful, de Atlanta, que tem reunido talentos como Abra e, majoritariamente, trappers, do que com potencial de mercado. Não dá pra imaginar nada mais vendável que isto aqui.

Outra coisa difícil de imaginar é que a imprensa perderia a chance de chamar Abra de representante do R&B alternativo. É uma classificação fácil, não está realmente errada a princípio e Abra não tem se queixado, ao contrário de FKA Twigs (vocês devem estar vendo esse nome nos textos logo abaixo ou acima de mim; guardem-no), que se emputeceu, com toda a razão do mundo, quando só vieram a classificá-la como R&B alternativo – e praticamente só sob esse rótulo – depois de descobrirem que ela é filha de mãe branca e pai negro. Rótulos para música são – em última análise – limitados, geram dificuldades a longo prazo, e às vezes mais prejudicam que ajudam. Música não tem nome, música tem estados e características. Mas o pior dos rótulos mesmo é ser dado de cima para baixo, e isso gera aberrações como os jornalistas que resolveram chamar Santigold de hip-hop, o que a deixou revoltada, porque, pra começo de conversa, ela é uma artista com 1% de influência hip-hop (e olhe lá) – e calha de ser negra.

Isso tudo posto, isso aqui é R&B sim, mas e daí? São suas características singulares que separam Abra da maioria do R&B contemporâneo e, consequentemente, do todo do pop atual. E apesar de se autodenominar a duquesa da darkwave, sua música não tem nada de sombria, mesmo tendo elementos retrôs em comum com as várias “-waves” (como por exemplo a própria darkwave). Mas o mais interessante é que Abra não tem nada de saudosista. Rose é um álbum do presente, que não tem interesse em soar passadista e feito por alguém que gosta de certos artefatos sonoros do passado e quis usá-los mas sem cair no fetichismo saudosista. O baixo gordo cujo timbre remonta a uma trilha sonora de um filme de Eddie Murphy dos anos 80 e a bateria pesada, que parece acústica e soa como uma introdução de uma música do Phil Collins, têm sua importância, geralmente são os primeiros elementos a aparecer (fazendo a pessoa distraída levantar as sobrancelhas), mas não carregam as canções para águas navegadas. Antes, fazem o contrário, as levam para um mundo singular e cheio de possibilidades em que o R&B assume um papel central mas não estrutural. Mesmo porque a última sentença é uma pegadinha: música pop nunca teve conceitos grandiosos como “estrutura”, música pop é o existencialismo na música, que me perdoem os estudiosos lendo isso, mas é isso, música pop é um eterno devir, o Werden, alguém me tira desse parágrafo, por favor…

Enfim. Tá parecendo que esse disco é difícil de ouvir, né? É não, gente, é uma delicinha. Isso aqui não é como essas moças como Sophie (que gostava era de entortar tudo) ou a própria FKA Twigs, que tem voz quebradiça e arranjos assim meio difíceis. Isso aqui não é o tal do deconstructed club, não tem Autotune irônico/com um propósito artístico (e muito menos só pra afinar a voz mesmo), mesmo que Abra já tenha trabalhado com Charli XCX, inglesa que vem fazendo muito sucesso misturando coisas ultra-pop com produção experimental.

Rose tem seriedade mas é leve, é formalmente diferente mas acessível, só tem o defeito de ter quase uma hora de duração. Não quero ser a pessoa a recomendar uma audição fraturada do disco, mas minha experiência é de ter problemas com álbuns com 54 minutos, principalmente quando o material enfraquece no quarto final. Agora, pense numa sequência inicial bem feita. As melhores músicas dão a cara logo, mas, afe, deixei minha chatice pra pegar no fim, isso é coisa covarde, vamos lá: ainda que as músicas mais imediatas estejam no começo, só percebi a qualidade do trabalho pra valer, mesmo em relação a algumas entre as oito primeiras maravilhas, quando as ouvi em separado. “Pride” só se revelou assim, isolada, no esquema de “agora vou ouvir UMA música”. “Feel” e “Roses”, essas são as primeiríssimas e não falham nem ouvindo-as com dor de dente. Olha, não vou ficar citando título de música. Vai ouvir.

*Antigo Aroldo SóSucesso!.

>>Pra sacar mais, clique no amarelinho:

Black Alien [Matéria deste hodierno blog] | Exposé, “Point Of No Return”Awful Records [Canal do Youtube] FKA Twigs | “Post Punk / Goth / Dark Wave/ Cold Wave / Synth / Electro / Industrial / Minimal / Dance [Playlist do YouTube] | Santigold, “Disparate Youth” [Ao Vivo no KCRW, YouTube] | Philip Bailey, Phil Collins, “Easy Lover” | “Como Funciona o Autotune” [Nerdologia, YouTube] |

 

Rose: ritmos de um futuro esquecido.
Augusto SóSucesso!

A história que vou contar começa na cidade de Porto Alegre. Era o ano de 2007 e tinha acabado de me mudar para a cidade mais rock and roll do brasil (na época isso ainda queria dizer algo) por questões pessoais e ainda em busca da santíssima trindade do rock gaúcho Júpiter, Wander e Frank Jorge – um fandom que me assombrou por diversos anos. Um belo dia passeando pela avenida dos Andradas (tipo centrão de POA), encontrei um vendedor de discos chamado Natanael. Muito simpático, papo agradável, como todo sebista, um profundo conhecedor ou um fingidor (como o poeta) dos discos que vendia.

Acontece que nessa época eu já tava ligado que o rock começava a exalar um cheirinho esquisito de naftalina, talvez por influência do meio repleto de mods de POA, mas muito provavelmente, pelo tom restroísta do fashion rock. O certo é que “aí eu comecei a cometer loucuras” e procurar por algo fora do esteriótipo NY 77 que os Strokes haviam começado a ressuscitar no começo da década e matar no disco seguinte por falta de criatividade.

Voltando às ruas de Porto Alegre, nesse dia frio e ensolarado, ao escolher um disco de uma pilha que estava no chão, fui bombardeado com uma carga de informações e emoções por parte de Natanael que, me obrigaram imediatamente a adquiri-lo. Natanael havia frequentado os “bailões” de POA na periferia negra do Morro da Conceição, um dos territórios sagrados do samba e da cultura negra de lá, que para mim havia sido vendida como europeia, mas que na verdade é majoritariamente negra em suas margens. Após muitos causos e detalhes comprei o disco e mais um dos Cascavelettes, que Natanael fez questão de me vender pelo dobro do preço sob o argumento de raridade – afinal ninguém é de ferro.

A doideira é que um disco do inicio dos 90 me jogou desse “nenhum lugar do passado” que o retroísmo dos 00 havia inventado para o futuro esquecido do eletrofunk materializado em uma capa tosca: a coletânea de freestyle/miami bass organizada pelo crew pioneiro do funk brasileiro, Furacão 2000.

Para quem é “boomer” ou “coroa moderno” é quase impossível dissociar o ritmo freestyle da banda que lhe empresta o nome. Hits como “It’s Automatic” e “Don’t stop the rock” se tornaram icônicos e acabaram ficando conhecidas mais pelo subtitulo de melôs do que por seus nomes verdadeiros. Além de Freestyle, as coletâneas traziam nomes como Dr. Dre, Tony Garcia e uma estrela em ascensão: Trinere, a rainha do freestyle. Com duas músicas presentes nessa edição de 1990, Trinere se tornou uma espécie de obsessão. Por que aquelas músicas ficaram restritas a uma periferia da música pop, em um subgênero que até hoje sofre por reconhecimento? Naquele dia, percebi que estava diante de uma supernova, uma estrela que havia brilhado tão intensamente, mas que agora só restava a memória de seu brilho. A partir, desse momento, mandei o rock se fuder e coloquei como missão a busca incessante por qualquer disco que tivesse a palavra funk, black, house e similares. Dessa experiência nasceu minha devoção pelo eletrofunk e todas as suas vertentes, eternizada inclusive em um podcast da SóSucesso!.

13 anos depois me deparo com um disco que parece ter como objetivo o resgate não só dessa diva, mas como de tantas outras esquecidas do house, freestyle e EDM: Rose (2015, Awful Records), da cantora americana Abra. Além de trazer toda essa história secreta à tona, o disco é muito mais do que uma homenagem aos ritmos que definiram a R&B da virada dos 80 para o 90, mas antes, a confluência de todos esses estilos atualizados pelo som único de Atlanta.

O disco abre com “Feel”, uma interzona entre a house e a darkwave que Abra explora com uma voz que parece existir desde sempre em sua cabeça e lhe traz uma sensação de conforto quase artificial, quase humana. Aliás, esse parece ser um dos principais motes do disco: a convivência entre o orgânico, traduzido pelos vocais de ABRA, e a artificialidade dos arranjos que condensam nos 50 minutos do disco um panorama da música eletrônica negra feita nas ultimas três décadas. Da música que dá titulo ao disco até o seu fim semi acústico com “Human” / “Game”, o disco alterna músicas já nascidas clássicos extáticos da pista de dança como “Roses”, “Atoms” e “Tonight” com momentos de reflexão introspectiva R&B (“U Kno”, “Fruit” e a kidabelhística “Pride”), hip hops cocainômanos (“Lights interlude”, “$hot”) e um house que não deixa nada a dever aos mestres de Chicago (“No Chills”). Em termos de timbre o disco não traz nenhuma grande novidade, mas é no talento como cantora e compositora que reside seu mérito. Você pode até dizer que já escutou esse beat ou linha de baixo em algum outro lugar mas a novidade aqui é o molde, a forma em que são utilizados. O cuidado e a artesania com o qual se trabalha esse passado, que só músicos da cidade que nos deu bandas como Outkast poderiam ter. Rose é um disco que poderia ficar preso no passado de sua capa, mas ao contrário atinge um poder de síntese de uma história da musica eletrônica dançante nunca contada: a de suas cantoras. Uma homenagem a todas as grandes divas do house, r&b e freestyle como a musa Trinere: Lisette Melendez, Lisa Stanfield e a vocalista do Inner City, Ann Sauderson.

Por outro lado, devemos manter em mente o alerta feito por Simon Reynolds em seu livro sobre o nascimento do garage e da cultura rave, “Energy Flash”, acerca de toda música eletrônica que se coloque como alternativa ao verdadeiro underground por meio de adjetivos como hard, dark, neo e o cacete, justificando uma diferença a priori entre o que seria artístico pela petulância e empáfia de dizer que o resto – ou seja, aquilo que realmente se faz de forma autêntica como o funk carioca – é feio e cafona, pois o “povo” anônimo não sabe o que faz.

Então meu jovem, não caia em engodos, se algum app tentar te vender algo assim, sugiro ir além do algoritmo e correr urgentemente pra um sebo atrás de seu personal Natanael.

E fim de papo!

>>Pra sacar mais, clique no amarelinho:

Júpiter Maçã | Wander Wildner | Frank Jorge | “Autopsicografia”, de Fernando Pessoa [Citador, Site] | Lupicínio Rodrigues, “Loucura” | The Strokes | Cascavelettes | Furacão 2000 [Wikipédia] | “Furacão 2000 Freestylers – Its Automatic (1988)” [YouTube] | Freestyle, “Don’t Stop The Rock” | Dr. Dre | “Tony Garcia e Reinald-O no Balanço Geral, 07/06/2013” [YouTube] | Trinere, “I’ll Be All You Ever Need (Club MIx)” | “O Funk de Robô, o Electro-Funk – Primeira Parte” [Podcast desta caprichosa equipe, no Mixcloud] | Outkast | Lisette Melendez | Coldcut feat Lisa Stansfield, “People Hold On” | Inner City, “Good Life” | blissblog, “I Believe in Blogs” [Blog de Simon Reynolds] | Simon Reynolds, “Energy Flash” [Livro Completo, PDF] |

 

Saudosismo trabalhado no neon.
Mateus SóSucesso!

Os EUA são uma praga. Lugarzinho cabeça-de-hambúrguer, país liberal ao extremo, impõe pro mundo uma agenda em que o indivíduo é Deus. De modos que é muito estranho assistir a alguém como Abra, tão parecida com amigas e pessoas próximas ao meu redor, receber o tratamento icônico de diva que aqui ali vemos em matérias e clipes, como por exemplo numa matéria com ela na Vogue – o que nesse caso já era esperado, já que sem isso Vogue não é Vogue, né? Aliás, o estranho não é Abra, é qualquer pessoa receber esse verniz de alguém distante de todas e todos nós, recebendo aura nessa realidade tecnicizada. Pois a técnica tiraria, afinal, o arrebatamento místico das coisas – de “peça única”, na obra de arte – graças à vulgarização, termo usado aqui no sentido original, como popularização (“vulgo” em latim quer dizer “povo”), como democratização e acesso. Só que a indústria – e o mercado – com seu starsystem, percebeu que é preciso aura pra que a obra de arte, feita mercadoria, escoe. Sem aura não se vende. Sem divas, a indústria fonográfica – em crise devido à cultura do compartilhamento, desde o Napster – não $obrevive.

Certo, os EUA são o paroxismo dessa praga toda aí, mas… são inevitáveis. Quer queiramos quer não, tudo o que nos circunda em maior ou menor grau possui a fuça de lá. E a coisa só tende a piorar nesse lado do globo. Se hoje o Brasil anexa à galope a alma a essa desgrama, a coisa toda pode tomar proporções inimagináveis caso os protestos em Cuba desemboquem numas de Glasnost, concluindo de vez a realidade unidimensional que vem se desenhando desde a queda lá do Muro de Berlim, em 89. Só que aqui, nestes trópicos trágicos, tem tudo pra ser pior, com essa vida dura, de economia dependente e miséria corroendo à milhão. Aqui, não existe espaço pra self-made-man, o registro ainda é colonial, as classes são praticamente castas. As ilusões tornam-se, assim, pesadelo, hein?

Enfim, deixa pra lá, não dá pra ficar resmungando a todo momento, é seguir, relaxar e gozar e ver o que dá pra se aproveitar disso tudo, sacar o que há de bom no bombom gorduroso da cultura estadunidense – e, no frigir, do capitalismo.

Em suma: Abra é foda.

Abra, acho, vai além dessa bagaça toda. Suas imagens deixam escapar algo que ainda remete ao prosaico da sua música, o que, sendo R&B, é uma baita de uma baita de uma virtude. Abra aparenta ser uma pessoa comum, sem nhenhenhém, com aquele jeitão independente que te chama pra beber um litrão e seguir pruma festa. Rose, o disco desta resenha, é coracional, parece abraço lânguido seguido de um beijo represado pela espera após um papo gostoso. É sussurro no pé do ouvido dizendo o quanto te gosta, o eterno do instante, você dançando juntinho ou desapegado mas inebriada ou inebriado com o jogo de luz acarinhando seu parceire na pista. Em Rose não existe platonismo, tá tudo ali, grudadinho apx em teu corpo, com aquele reverb do disco te conduzindo pro esfumaçado de um sonho. Mas o sonho que tá aqui é bem palpável, ao alcance das mãos, sem pompa. Um disco que contém uma verdade que remete a sentimentos reais, palavra, esta última, que não tá aqui de qualquer jeito, já que “real” é – e tem de ser – partida e chegada, não um simples referente, como pós-mods acadêmicos querem te fazer crer, 171. Ou seja, na verdade a realidade é feita de prática, essa coisa das mãos, o mundo precede o discurso, o beijo só tem sentido quando não é apenas lido mas beijado. Rose é um beijo beijado.

É também essa emoção próxima – de um beijo beijado – donde nasce esse meu estranhamento à divinização – ou, ér, “divanização” (cretino, né) – que empurram pra Abra, como empurram pra todo R&B. Ideia tosca.

Rose é um disco de beats e melismas. Traduzo: a batida impera, uma batida eletrônica austera e de mãos dadas com aquele jeito de cantar no qual Whitney Houston fez carreira. Tá, Whitney Houston foi exagero meu, porque nem de longe Abra canta com vozeirão farto. Seu canto é leve, seu flow serpenteia na cadência do beat, que chama pra pista ou pra você olhando pro nada ou pras duas coisas. Rose entra na mente, costura a imaginação, faz você balançar a cabeça ou bater o pezinho no imaginoso do gelo seco. Saudade daquilo que não viveu, coisa aliás bem presente nessa geração, que é a de Abra. E bora combinar: mesmo com a paixonite dessa galera jovem-adulta cringe, ô dial cafona era o da década de 1980, viu?, vou te contar…

Existe um glacê no disco que nasce dessa reverência aos 80, pois ainda que seja um álbum de R&B, com tratamento rapper de R&B, rola nele um namoro com a house de Chicago (como em “Roses”, por ex., um hitzão) ou com artistas como Madonna (como em “Atoms”, por ex.), essa predecessora do pop e, em especial, das divas. Rose é um disco feito com produção caseira e de poucos adornos, mas é um disco luxuoso que contrasta, ambiguamente, com sua simplicidade, uma virtude. Um luxo que advém tanto do enquadramento R&B, como de seu oitentismo, o que confronta a afirmação lugar-comum de que Rose é um álbum lo-fi. Não vejo relação – na produção, friso – com gente como, por ex., Daniel Johnston ou com uma banda como Guided By Voices. Total nada a ver.

E deixo aqui registrado o montão de resenhas peba que li sobre Rose. A única que falava de fato do disco saiu da estadunidense Pitchfork, mas… que resenhazinha, viu? O texto fala de pós-punk, um tremendo gato por lebre, e nenhuma linhazinha sobre Frankie Knuckles, o subterrâneo William S, ou mesmo Madonna, musicalmente mais próximos. Salvo será o dia em que a crítica saia do rock e vingue aquela noite infame na qual roqueiros queimaram discos da disco. Parte expressiva da música, hoje, deve à disco e seus derivados. Já o rock, como todo morto, é só data de calendário.

Abra, em Rose, tem jeito de danceteria com o salão fechando… Em Rose, Abra é uma continuação extemporânea do espírito de “Paris is Burning” – se não viu, assista, obrigação. Abra é saudosismo trabalhado no neon. E Rose é essa bitoca na sua bochecha <3 .

>>Pra sacar mais, clique no amarelinho:

“Abra: Wishes Granted”, por Alex Russell [Crack Magazine] | Abra, “Come 4 Me” [Clipe, YouTube] | “Meet Abra, the Next Princess of Alt R&B Style”, por Marjon Carlos [Vogue] | Walter Benjamin, “A Obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica” [Artigo, PDF] | “La Industria Discográfica y los Consumidores: La musica como bien comercial o gratuito?”, de Fabián Eduardo Arango Archila [Artigo em Espanhol, 2015] | “Explicando os Embargos Econômicos dos EUA contra Cuba”, por Laura Sabino [YouTube] | “O fim da União Soviética e o anátema de Trotsky”, por Andreas Maia [Esquerda Marxista, Site] | Self-made-man de acordo com a Mafalda [Tirinha de Quino] |“Melisma – Introdução | Efeitos e Ornamentos Vocais” [Cifra Club, YouTube] | Whitney Houston | Marquinhos Moura, “Meu Mel” [Globo de Ouro de 1987, Extinto Programa da Globo, YouTube] | Madonna, “Borderline” | “El fenómeno del Lo-Fi – Entre la rebelión y el estilo de vida”, por Juanma [Thomann Blog] | Daniel Johnston, Hi, How Are You [Disco Completo, YouTube] | Guided By Voices | “Abra, Rose“, por Vanessa Okoth-Obbo [Pitchfork] | Frankie Knuckles | William S | Madonna, “Where Life Begins” | “Disco Demolition Night: O Dia em que a Música Eletrônica Queimou”, por Viktor Raphael [Beat for Beat] | “Marcelo Nova, Eric Clapton e Morrissey: rock negacionista” [Galãs Feios, YouTube] | “Paris is Burning”, de Jennie Livingston [Filme Completo, legendado, YouTube] |

 

>FICHA TÉCNICA:

Autoria: Abra.

Produção: Abra.
Mixagem: John Wade.

Gravadora: Awful Records (Atlanta, EUA).